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sexta-feira, julho 30, 2010

Não é possível humanizar o capitalismo, afirma dirigente da CGTP


Mundo

Vermelho - 29 de Julho de 2010 - 9h56

A crise da dívida acirra os conflitos sociais na Europa e confere maior nitidez à contradição antagônica entre capital e trabalho, estimulando uma crescente conscientização dos trabalhadores e dos povos acerca da natureza perversa do sistema capitalista, segundo a opinião de Graciete Cruz, secretária de Relações Internacionais da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP).

 
Mais 35 milhões de pobres na União Europeia após a crise, segundo dirigente da CGTB  
Em entrevista ao Vermelho, durante o 3º Encontro Sindical Nossa América (Esna), em Caracas, do qual participou como convidada, Graciete Cruz informou que a crise elevou de 85 milhões para 120 milhões o número de pobres na União Europeia e serviu de pretexto para as classes dominantes intensificarem a ofensiva contra os assalariados, enquanto os governos, a serviço da oligarquia financeira, destinam bilhões de euros ao resgate do sistema financeiro.

O povo sofre com a redução das verbas dedicadas à rede de seguridade social, enquanto alguns ricos viram ricaços e cresce o lucro dos bancos. O contraste não poderia ser maior. A reação da classe trabalhadora é vigorosa e pode radicalizar na medida em que avançar a unidade entre as entidades sindicais da região, que convocaram uma grande manifestação conjunta no velho continente para 29 de setembro.

Leia abaixo a íntegra da entrevista:

Portal Vermelho: A crise está acirrando a luta de classes na Europa. Como você analisa a conjuntura econômica e política de Portugal e demais países do continente?

Graciete Cruz: Nós, no quadro europeu, temos nos deparado com o aprofundamento de um caminho que leva a um dramático retrocesso social. A crise agravou a situação, levando os governos a impor aos povos sucessivos pacotes ditos de austeridade, dentro do chamado Plano de Estabilidade e Crescimento (PEC). São medidas que já vinham sendo tomadas. Quando a crise explodiu os sindicatos e as forças políticas progressistas reclamaram a ruptura com as orientações neoliberais que geraram as turbulências econômicas e políticas emergenciais para enfrentar os impactos sociais da crise, nomeadamente emprego e proteção social.

Num primeiro momento, os governos europeus e, em particular, o português tomaram algumas medidas de proteção ao desemprego, cedendo à enorme pressão das organizações que defendem os interesses dos trabalhadores. Em Portugal, o governo primeiro recusou, depois ampliou em seis meses o prazo de vigência do seguro desemprego, atendendo reivindicação da CGTP. Reclamamos outras medidas e fomos parcialmente atendidos. As primeiras medidas, porém, adotadas em nome da estabilidade do sistema financeiro, foram para salvar a banca. Em Portugal, neste ano, o governo destinou 10 bilhões de euros aos bancos.

Vermelho: E depois?

GC: Agora cortam todo o apoio que deram e estão indo mais longe, ao mesmo tempo em que mantêm o apoio extraordinário ao sistema financeiro, que continua colhendo lucros fabulosos. No primeiro trimestre de 2010, os cinco maiores bancos portugueses registraram lucros diários de 5 milhões de euros. Num contexto de crise financeira, isto é um absurdo. Eles já pagam menos impostos que as empresas de outros ramos de atividade.

O Plano de Estabilidade e Crescimento (PEC) reitera o propósito de reduzir o déficit público a 3% do PIB, uma exigência da cúpula da União Europeia. Para alcançar tal meta, os governos estão cortando despesas sociais e flexibilizando ou suprimindo direitos dos trabalhadores. Alem disto, se submetem ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Também estão aumentando impostos com o objetivo de reforçar a receita. Com isto, estamos amargando a elevação dos preços de produtos básicos em Portugal, incluindo medicamentos, alimentação e transporte. O imposto sobre o consumo aumentou 1%. O número de pobres subiu de 85 para 120 milhões na União Europeia.

Vermelho: Os governos afirmam que o ajuste fiscal é inevitável. Como o movimento sindical responde a isto?
GC
: Não é verdade, existem alternativas. Os governos não tocam nos interesses dos grandes grupos econômicos e, em especial, no ramo financeiro. Não elevam impostos sobre produtos de luxo. É por esta razão que, num momento de estagnação econômica e contração da demanda em geral, assistimos ao crescimento da venda de automóveis de luxo e a emergência de mais 600 grandes milionários em Portugal.

Isto significa que são sempre os mesmos, os que menos têm e menos podem, a pagar a conta da crise que não criaram. A CGTP defende que é preciso buscar o dinheiro onde ele realmente está. Taxar produtos de luxo, os grandes grupos, as transações financeiras, acabar com os paraísos fiscais e com os desperdícios do Estado. O governo português recorre ao exterior para a elaboração de certos projetos, que custam caro, quando sabidamente existem técnicos em nosso país com competência para fazer o mesmo trabalho. Em vez disto, congelaram os salários dos trabalhadores do setor público e decidiram que quem sair do quadro de servidores não será substituído, de forma a reduzir o pessoal, o que vai contribuir para o crescimento do desemprego.

Vermelho: É possível avançar no sentido da unidade da classe trabalhadora europeia ou a diversidade das realidades econômicas e políticas dos países da região bloqueiam este caminho?
GC
: Existem identidades nesta ofensiva contra o trabalho, que é comum no continente, mas também têm diferenças ponderáveis, tanto nas dimensões das medidas quanto na resposta sindical. Lamentavelmente, contamos com um movimento sindical que nem sempre consegue marchar unido em torno de objetivos de longo prazo ou mesmo mais imediatos. Temos diferentes culturas sindicais. Há contradições e atrasos na resposta.

Um grande número de sindicalistas acredita que a solução virá nos marcos do sistema capitalista, ou seja, que é possível reciclar e humanizar o capitalismo. Isto é uma ilusão. Não é possível humanizar o capitalismo. Eles não lutam por uma sociedade sem explorados nem exploradores. Esta é a principal razão pela qual não temos uma resposta à crise mais clara, unitária e consequente por parte do movimento sindical.

Vermelho: E os trabalhadores?
GC
: Em que pesem esses problemas, fica cada vez mais claro para os trabalhadores que a crise conduziu ao reforço e intensificação da exploração capitalista. Há uma crescente tomada de consciência dos assalariados e dos povos que conduzem mesmo as lideranças mais recuadas a avançar em seus posicionamentos e na resposta. Nós incentivamos a unidade.

Foi convocada pelas entidades sindicais uma ação europeia em defesa dos trabalhadores e contra as medidas impostas pela União Europeia (UE) e FMI. Está programada ma manifestação em Bruxelas, sede da UE, que será acompanhada de greves, passeatas e atos públicos em todos os países da comunidade. Vamos ver como as diferentes correntes que atuam no movimento sindical vão responder a esta iniciativa. Para a CGTP é importante a unidade de ação e a convergência de objetivos. Isto se constrói em primeiro lugar a partir de cada país. É preciso que se faça o máximo em cada país e que esta luta tenha continuidade, pois os problemas não serão resolvidos e nem se encerram em 29 de setembro.

Será uma luta difícil e prolongada, tendo em vista nossos objetivos estratégicos de construir sociedades mais justas, sem explorados ou exploradores, porque estamos convencidos que o capitalismo é o fim da história. Lutamos pelo socialismo.

Por Umberto Martins 
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