A Internacional

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quinta-feira, julho 29, 2010

FSM completa 65 anos apostando na luta de classes e no socialismo


Mundo

Vermelho - 28 de Julho de 2010 - 16h01


A crise do sistema capitalista na Europa é muito profunda e não encontrará uma solução progressista nos marcos do capitalismo, na opinião do secretário-geral da Federação Sindical Mundial (FSM), George Mavrikos. Ele elogia a reação da classe trabalhadora, "forte especialmente na Grécia", e critica as organizações ligadas à social-democracia, hoje identificadas com o neoconservadorismo, que procuram amortecer as lutas e apostam no falso caminho da conciliação entre capital e trabalho.


Para Mavrikos, que recebeu as reportagens dos portais Vermelho e CTB em Caracas, ao final do 3º Encontro Sindical Nossa América, é importante perceber que a atual social-democracia é bem diferente daquela de meados do século passado, basicamente por estar atrelada às forças neoconservadoras de todo o planeta.

Durante a entrevista, Mavrikos também falou dos 65 anos de história da FSM, analisou o papel de resistência desempenhado atualmente pela classe trabalhadora europeia, elogiou os recentes avanços da América Latina e se mostrou bastante otimista a respeito da organização do 16º Congresso da entidade, a ser realizado em abril de 2011, em Atenas (Grécia).

Confira abaixo a íntegra da conversa:

Vermelho e CTB: A FSM completa 65 anos em 2010. Que avaliação é possível fazer de sua história, tendo como base as mudanças pelas quais a organização passou após a queda da União Soviética, no começo da década de 1990?
George Mavrikos: A FSM teve uma atuação muito rica em seus 65 anos de história. Seus princípios se baseiam no internacionalismo, na solidariedade e na luta de classes. Baseada nesses princípios, ela tem atuado por todos esses anos movida por um espírito combativo. As lutas da FSM se deram em diferentes continentes, tanto na Europa como na América, na Ásia e na África. Lutamos contra o apartheid na África do Sul, contra o racismo, contra ditaduras e em diversas batalhas muito importantes. Os exemplos da Nicarágua, da Guatemala, do Chile e de Cuba são paradigmáticos desse processo.

Entre 1990 e 2005, a FSM encontrou dificuldades diante das mudanças na política internacional daquela época. Passamos momentos muito difíceis, mas, desde o 15º Congresso, em 2005, nos encontramos em uma fase de reconstrução de nossa ação. Há novos sindicatos e centrais fortes ao nosso lado, como a CTB, do Brasil. Nos últimos seis anos, 63 novas organizações se filiaram à FSM e atualmente representamos 72 milhões de trabalhadores e trabalhadoras em 110 países. Avançamos, mas ainda estamos atrasados diante das dificuldades existentes, sobretudo neste atual momento de crise do capitalismo, fase em que as necessidades são ainda maiores.

A respeito da atual crise, como você tem analisado — a partir um ponto de vista privilegiado, na Grécia — a luta dos trabalhadores europeus contra as chamadas medidas de austeridade impostas por alguns governos?
A crise do sistema capitalista na Europa é muito profunda. Neste momento ela está aparecendo na Grécia de forma mais contundente, mas ela também está em outros países, como Portugal e Espanha. As políticas do Fundo Monetário Internacional são profundamente anti-trabalhistas. Na Grécia, por exemplo, onde há atualmente um sistema social-democrata, estão aplicando cortes de salário e aumento da idade para aposentadoria. Estão vendendo todo o patrimônio público, com privatizações, a taxa de desemprego saltou de 7% para 14%, mas alguns dizem que ela pode chegar a 26% em 2011.

A classe trabalhadora da Grécia está resistindo de maneira muito forte. Nos últimos meses, foram realizadas 11 greves gerais. Sem elas, sem essa resposta, certamente mais coisas teriam sido perdidas. A situação é muito difícil e complexa. Uma grande parte da classe trabalhadora está saindo às ruas para resistir de uma forma mais firme, mas outra parte tem medo de agir assim e acabam ficando em casa.

A Europa hoje passa por uma realidade que se parece com a da América Latina na época da crise da dívida externa, aprofundada pela crise neoliberal — um cenário em que o movimento sindical é dominado pela social-democracia. Isso se expressa, em âmbito mundial, numa hegemonia da Confederação Sindical Internacional (CSI). Qual a estratégia da FSM para se contrapor a esse cenário?
Uma conclusão básica que temos que tirar de tudo isso é o papel desempenhado pela social-democracia em todo o mundo. A social-democracia atual não tem nada a ver com aquela de 1920, 1950 ou 1970. Hoje ela se identifica com uma linha neoconservadora, pois ela se vê em Zapatero, Brown, Obama e outros que tomam decisões conjuntas ao lado de Merkel, de Sarkozy e Berlusconi. A primeira coisa que a classe trabalhadora deve compreender é isso.

Assim, a FSM se propõe a agir de duas formas: (1) proporcionar uma saída para a classe trabalhadora, com objetivos bem definidos, dizendo por que ela tem que lutar e (2) coordenar toda essa luta.

Demos até agora pequenos passos. Criamos uma plataforma com propostas para a saída da crise, organizamos um fórum internacional em Lisboa e outro em Bruxelas com sindicatos de toda a Europa. Nossa proposta principal é dizer que o capitalismo não tem condições para dar resposta à atual crise. Nas Europa estamos tentando coordenar as coisas. Em agosto haverá um encontro de sindicatos europeus em Atenas. Em outubro haverá outro em Roma com o mesmo objetivo.

Suponhamos que a Grécia consiga sair da crise atual. Com a taxa de desemprego em 30% e as empresas fechadas, que tipo de desenvolvimento haverá? Quanto isso irá durar? Teríamos que nos reconstruir sobre uma crise. Por isso é que temos trabalhado, lutando não apenas para resolver os temas ligados a salários e pensões, mas também pela mudança de sistema.

Diante desse cenário, quais são suas expectativas para o 16º Congresso da FSM?
O 16º Congresso da FSM é um grande desafio. O fato de se realizar na Grécia, em meio ao atual cenário de crise e de resistência é algo muito importante. Queremos fazer um Congresso aberto e democrático, um Congresso de trabalhadores, não de burocratas. Um Congresso que debata os problemas atuais, como o desemprego, a educação, o meio ambiente, a saúde, os risco existentes no trabalho. Todos esses temas têm que ser debatidos. E temos também que traçar nossa estratégia, além de eleger uma nova direção.

É muito importante o fato de ser realizado na Europa, pois há 30 anos não se celebra um Congresso sindical no continente. Nossa responsabilidade é muito grande, mas confiamos em nossos afiliados para que tenhamos êxito. Será certamente um novo passo de qualidade e importância para o movimento sindical internacional classista.

Ao final dos trabalhos do 3º Encontro Sindical Nossa América, qual sua avaliação sobre o atual momento vivido pela América Latina?

Os acontecimentos e o desenvolvimento político da América Latina servem de exemplo para todo o mundo. As eleições que ocorreram agora na Colômbia, por exemplo, foram acompanhadas por todo o mundo. O mesmo acontecerá no Brasil em outubro, naturalmente. A classe trabalhadora da Europa segue o que se passa por aqui muito de perto e considera esse desenvolvimento positivo. Ela considera que o movimento sindical do continente tem o caráter classista.

É claro que, diante desses avanços, as forças capitalistas e imperialistas tentam intervir de alguma forma. As bases do Exército norte-americano, o que houve em Honduras e o que se passa na Costa Rica são exemplos disso, além da ocupação feita no Haiti depois da tragédia que afetou o país. Isso mostra que há avanços na região, mas também uma série de dificuldades. Nosso papel é tentar ajudar para que haja mais avanços e menos problemas. Este Encontro na Venezuela é, portanto, fundamental para que novos avanços sejam conquistados pela classe trabalhadora.

De Caracas,
Fernando Damasceno e Umberto Martins
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