Formação:  Candidaturas ao Ensino Superior iniciam-se hoje
Pedro  Catarino
Em 2007, havia 43 mil licenciados em trabalhos de baixa  qualificação ou não qualificados
- 0h30 - 2010.07.13
Portugal  tem 54 600 desempregados com habilitações de Ensino Superior:  licenciaturas, mestrados ou doutoramentos. Os dados são do Instituto  Nacional de Estatística (INE), relativos ao primeiro trimestre deste  ano, o que significa mais 8,5 por cento (4300) do que no mesmo período  de 2009. Hoje inicia-se a primeira fase de candidaturas ao Ensino  Superior, para a qual foram disponibilizadas 53 986 vagas, quase tantas  quanto o número de licenciados sem emprego.
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Perante  este cenário, as perspectivas de arranjar um trabalho na área de  formação são cada vez mais reduzidas. Os recém-licenciados deixam as  universidades e em pouco tempo desistem de procurar um local onde possam  exercer uma profissão relacionada com a sua formação. As estatísticas,  mais uma vez, não podiam ser mais claras: em 2007, havia pelo menos 43  mil licenciados em trabalhos de baixa qualificação ou não qualificados,  como limpezas ou construção civil.
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Raquel Seno, de  33 anos, licenciou-se em Engenharia do Ambiente há sete anos e nunca  trabalhou na área. Hoje trabalha numa empresa de telecomunicações:  'Quando terminei o curso foi frustrante. Gostava de fazer algo na área,  mas já não procuro nada.' João Amaral, por sua vez, esteve três anos num  laboratório a exercer a profissão que escolheu. As condições de quem  sobrevive em função das bolsas atribuídas aos projectos fizeram-no  desistir. 'Formei-me em Biotecnologia em 1991/92 e ainda estive três  anos num laboratório. Tive de desistir e desde então já tive trabalhos  em várias áreas', conta.
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Licenciada em Psicologia,  com uma pós-graduação em Comportamento Organizacional, Sílvia Ferreira,  de 26 anos, lamenta o investimento: 'Já desisti. Só se surgir uma  colocação por recomendação. De outra forma não vale a pena pensar nisso.  É frustrante.'
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AUMENTO DE VAGAS EM  DIREITO É 'UMA FRAUDE'
O bastonário da  Ordem dos Advogados, Marinho Pinto, considerou ontem 'uma fraude' o  aumento do número de vagas para os cursos de Direito (abriram 1330  lugares), justificando que o mercado já tem excesso de licenciados na  área. 
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No dia em que foram conhecidas as vagas  para o Superior público, a Ordem dos Enfermeiros divulgou os resultados  de um questionário feito a enfermeiros, que indica que quase vinte por  cento dos licenciados não exercem a profissão.
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PORTUGAL  LIDERA FUGA DE CÉREBROS NA EUROPA
Portugal  é o país da Europa em que mais licenciados partem, todos os anos, para o  estrangeiro à procura de trabalho. Nos últimos dez anos foram 450 mil  os diplomados no País e quase vinte por cento decidiram emigrar, de  acordo com dados divulgados pela OCDE relativos a 2007. Áreas de saúde e  engenharias são as mais atingidas. No estudo da OCDE, o Haiti é o país  com mais alta taxa de fuga de diplomados: 83,6%.
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DEPOIMENTOS
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'INVESTI 15 A 17 MIL EUROS NO CURSO DE DESIGN', Marcos  Evangelista, 27 anos, Design Multimédia, Almeirim
'Investi  15 a 17 mil euros no curso de Design Multimédia. O mercado está muito  difícil. Já passei por três empresas que nunca me deram estabilidade  profissional.'
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'QUIS FAZER MESTRADO MAS NÃO VALIA A  PENA', Fábio Fontes, 26 anos, Tradução Inglês/Francês, Évora
'Acabei o curso de Tradução Inglês/Francês em 2006 e a  ocupação temporária no Cybercenter acabou por se tornar definitiva.  Ainda quis fazer mestrado, mas não valia a pena.'
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'NÃO  TENHO EXPECTATIVAS DE TRABALHAR NA ÁREA', Catarina Matos, 29 anos,  Geografia e Urbanismo, Lisboa
'Nunca trabalhei na  área de formação, nem tenho expectativas de o fazer. Tive uns estágios  profissionais, mas não consegui. Foi sempre noutras áreas, como call  centers.'
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DISCURSO DIRECTO
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'PARA O ANO ABRIRÃO MAIS CEM VAGAS EM MEDICINA', Mariano  Gago, Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior 
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Correio da Manhã – As vagas no ensino superior  voltam a aumentar. Porquê?
Mariano  Gago – Portugal tem metade dos licenciados dos países  desenvolvidos. Precisamos de profissionais qualificados para atrair  investimento.
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– O bastonário dos Advogados  reitera que há excesso de vagas em Direito. 
– O curso de Direito não é só para formar advogados e  magistrados, mas também para muitas outras áreas. Os alunos sabem isso.
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– As vagas de Medicina são criticadas pelo  bastonário dos Médicos, que teme que não haja internato para todos os  alunos.
– Já telefonei à ministra da  Saúde e garantiu-me que haverá internato para todos. Para o ano abrirão  mais cem vagas em Medicina e um curso novo, em Aveiro. Toda a gente sabe  que há falta de médicos.
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– Confirma que  vinte mil estudantes podem perder apoios devido à nova fórmula de  cálculo das bolsas de estudo?
– Não  esperamos uma diminuição muito significativa de bolsas. A nova fórmula é  mais justa e impede alunos de famílias abastadas de obterem bolsas.
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Crise: Empréstimos para pagar os estudos
Alunos pediram 128 milhões aos bancos
A época de crise económica tem levado ao aumento do pedido de empréstimos dos estudantes do ensino superior, que recorrem à linha de crédito criada pelo Governo há três anos..
Em Dezembro de 2009,  contabilizavam-se 11 108 empréstimos, quando no final de 2008 eram 6452 e  no final do ano lectivo 2007/08 eram 3693. Até ao final de 2009, o  valor do crédito contratado ascendia a 128 milhões de euros. Os  empréstimos entre 10 mil e 15 mil euros foram os mais contratados  (3522), seguindo-se os empréstimos entre 5 mil e 10 mil euros (2875).  Dois terços dos empréstimos concedidos são para estudantes matriculados  em estabelecimentos de ensino superior público e são os que frequentam  cursos de Enfermagem (590) quem mais recorre ao crédito.
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O valor de cada empréstimo está relacionado com a  duração do curso, num máximo de cinco anos e até cinco mil euros por  ano. 
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Mobilidade: Naturais do Brasil e PALOP  lideram lista
Getty  Images
Gabinete de Estatística do Ensino Superior analisou situação  dos estudantes em Portugal
Nove mil estrangeiros estão a tirar o curso em Portugal
Representam cinco por cento dos alunos do ensino  superior português, num total de 8663 estudantes. No ano lectivo 2008-09  estavam matriculados 174 mil alunos no ensino superior, dos quais 165  337 de nacionalidade portuguesa. 
- 11 Julho 2010
De acordo com o documento  ‘Inscritos no Ensino Superior: Informação Socioeconómica’, elaborado  pelo Gabinete de Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações  Internacionais do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, a  maioria dos alunos estrangeiros é de nacionalidade brasileira (3813),  angolana (3587), cabo-verdiana (3544) e moçambicana (876). De países  europeus, são os espanhóis os que mais optam pelas instituições  portuguesas para iniciar, continuar ou concluir um curso superior: 679  estavam inscritos no ano lectivo 2008-09. Seguem-se os franceses (584) e  os italianos (334). Mas também há alunos provenientes de países tão  distantes como a Polinésia Francesa (2) ou Vanuatu (1), ambos da  Oceânia. 
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No que respeita aos caloiros  estrangeiros, em 2008-09 foram 6225: África (2665), América (2111),  Europa (1196), Ásia (239) e Oceânia (14). Mais uma vez, são os nascidos  no Brasil e nos países africanos de língua oficial portuguesa quem  lidera a lista dos estrangeiros caloiros. Do continente asiático,  matricularam-se 57 chineses, 32 iranianos e 31 timorenses.
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570 COM MENOS DE 18 ANOS
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O Inquérito ao Registo de Alunos Inscritos e Diplomados  do Ensino Superior, realizado pelo GPEARI/MCTES, referente a 2008-09,  indica que estavam matriculados 570 estudantes com menos de 18 anos de  idade: nove tinham 16 anos e 561 contavam 17 anos. No outro extremo  encontravam-se os estudantes com mais de 45 anos: 16 689 (8864  mulheres). O escalão etário com mais alunos em todos os graus de ensino  superior é o dos 25-34: 94 878 inscritos.
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52  MIL ENTRAM NA 1ª OPÇÃO
Quase metade (44  por cento) dos alunos inscritos pela 1ª vez no ensino superior público  em 2008-09 conseguiu entrar na 1ª opção de ingresso. Na 2ª opção  entraram 8422 estudantes (7,1 por cento). De acordo com o estudo do  GPEARI/MCTES, 2,7 por cento ficaram colocados nas 5ª e 6ª opções (3234  alunos). No entanto, ressalve-se que 46 832 (39,7 por cento do total)  não responderam a esta questão do Inquérito ao Registo de Alunos  Inscritos e Diplomados. 
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