Conferência de Imprensa, Jerónimo de Sousa, Secretário-geral do PCP
Quinta 22 de Julho de 2010                 
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Em conferência de Imprensa, o Secretário Geral do PCP afirmou  hoje que, estaremos na primeira linha de defesa da Constituição e não  permitiremos que o processo de revisão – por mais graves e perigosas que  sejam algumas propostas - seja uma cortina de fumo para afastar os  portugueses da luta contra as injustiças sociais e contra as políticas  do Governo PS.
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1 – É num quadro marcado por uma profunda e grave crise económica e  social e por um violentíssimo ataque aos direitos dos trabalhadores e do  Povo português em resultado de um recente entendimento entre PS e PSD  que, por iniciativa do PSD, está anunciado para breve o início de mais  um processo de revisão constitucional. 
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Uma grave situação do país – crise, desemprego, injustiças,  dependência, corrupção – que resulta, não do quadro democrático e  constitucional aprovado em 1976, mas antes, de uma política marcada pelo  sistemático incumprimento e confronto com os princípios e com os  direitos, liberdades e garantias consagrados na Constituição da  República.
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Portugal não tem nenhum problema com a Constituição, e o Povo  português sabe isso. A grave situação em que o país se encontra resulta  sim da sua violação e incumprimento.
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A situação a que o nosso país chegou é resultado de mais de três décadas de políticas e opções governativas que contrariam o espírito e a letra da Constituição, tanto no domínio económico, como social e cultural.
A situação a que o nosso país chegou é resultado de mais de três décadas de políticas e opções governativas que contrariam o espírito e a letra da Constituição, tanto no domínio económico, como social e cultural.
Para o PCP, a saída da crise não passa pela ruptura com a Lei  Fundamental, mas por uma ruptura com a política de direita, pelo  cumprimento da Constituição da República.
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No momento em que o PSD decide abrir mais um capítulo da sua ofensiva  contra a Constituição, o PCP reafirma a sua convicção de que a abertura  de um processo de revisão constitucional no momento actual não  constitui, nem uma prioridade, nem uma necessidade.
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2- Este anúncio do PSD, em si mesmo, nem seria novidade, tendo em  conta que o ataque do PSD à Constituição é tão antigo como a própria  Constituição. Na verdade, o PSD votou a Constituição em 1976, mas nunca  concordou com ela. Tentou submetê-la a referendo ainda antes de  aprovada. Em 1980, tentou forçar um golpe de Estado constitucional para a  afastar. Usou sempre os processos de revisão constitucional para propor  a destruição de princípios e valores fundamentais em que assenta o  regime democrático constitucional consagrado em 1976.
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O equilíbrio constitucional de poderes entre órgãos de soberania, a  coexistência entre os sectores público, privado e cooperativo da  economia, a consagração de direitos sociais fundamentais dos  trabalhadores e dos cidadãos em geral, estiveram sempre sob o fogo  cerrado do PSD. Em nome de uma suposta “limpeza” ideológica da  Constituição, o que o PSD sempre pretendeu foi impor um modelo  constitucional de sinal ideológico contrário ao dos valores de Abril,  onde os únicos direitos legítimos seriam os do capital, e onde os  direitos dos cidadãos ao trabalho, à segurança no emprego, à educação, à  saúde, à segurança social ou à cultura não teriam qualquer garantia  constitucional.
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3 – Os aspectos que foram publicitados do projecto de revisão  constitucional do PSD representam uma grave afronta ao regime  democrático-constitucional e apontam claramente para o desmantelamento  do conteúdo progressista e democrático consagrado em 1976 e que se  mantém na Constituição apesar das sete revisões realizadas.
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No plano social, o PSD não esconde os seus propósitos de  constitucionalizar a arbitrariedade dos despedimentos, ao eliminar a  proibição dos despedimentos sem justa causa, e de eliminar os princípios  de universalidade e tendencial gratuitidade no acesso à saúde e à  educação. Se tais propostas fizessem vencimento, estaríamos perante um  retrocesso civilizacional sem precedentes.
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Sem prejuízo de um balanço crítico global que será feito a seu tempo,  quando for conhecido o projecto concreto de revisão constitucional do  PSD, e sem deixar de assinalar que no plano político, as propostas que  já são conhecidas apontam para incongruências e para a criação de  desequilíbrios na relação de poderes entre órgãos de soberania, tudo  indica que o objectivo estratégico do PSD é dar cobertura constitucional  à política de direita, à liquidação dos direitos dos trabalhadores e  das funções sociais do Estado, que os sucessivos governos do PS, PSD e  CDS têm concretizado.
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4 – O PCP chama a atenção para a manobra de ilusionismo político – na  sequência de outras crispações públicas que visam esconder negociações  privadas – que PS e PSD pretendem levar a cabo, procurando dar a ideia  de que, entre os projectos políticos do PSD e a prática do Governo do PS  existem diferenças fundamentais e insanáveis.
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Na verdade, a prossecução dos eixos estruturantes das políticas do  actual Governo, a começar pelo famigerado Programa de Estabilidade e  Crescimento, com o seu rasto de ataques ao “Estado Social” que o PS diz  querer defender, só é possível graças ao apoio do PSD, e constitui em si  mesmo, um exemplo de opções políticas que vão no mesmo sentido que este  projecto de revisão constitucional.
As divergências agora exibidas entre o PSD e o PS tendo como pano de  fundo o projecto liquidacionista de revisão constitucional do PSD, não  podem esconder as reais convergências que se têm estabelecido entre  ambos para impor sacrifícios injustos ao povo português e para realizar  políticas que contrariam na prática princípios fundamentais consagrados  na Constituição.
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Uma convergência que pode ser também confirmada pelo facto de todos  os processos de revisão ordinária da Constituição terem começado com a  afirmação de grandes divergências entre o PS e o PSD, para redundarem  afinal na celebração de acordos de revisão entre ambos, à margem da  Assembleia da República – como aliás recordou ontem o secretário-geral  do PSD - através dos quais, muitos dos objectivos de descaracterização  constitucional visados pelo PSD foram atingidos.No histórico dos  processos de revisão constitucional o PSD sempre exigiu tudo para  conseguir muito. O PS deu sempre muito afirmando que não cede em tudo!
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5 – A defesa dos valores fundamentais e o cumprimento da Constituição  da República assumem uma importância decisiva para o presente e para o  futuro da democracia portuguesa. O PCP estará na primeira linha de  defesa da Constituição e não permitirá que o processo de revisão  constitucional – por mais graves e perigosas que sejam algumas das suas  propostas - seja uma cortina de fumo para afastar os portugueses da luta  contra as injustiças sociais e contra as políticas do Governo PS que,  com o apoio activo do PSD, aprofundam as injustiças sociais, aumentam o  desemprego e a precariedade laboral, e agravam as condições de vida dos  trabalhadores e das camadas sociais mais desfavorecidas.
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