A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

sexta-feira, abril 20, 2007




Bento Gonçalves
Um exemplo a seguir


Perfil de um revolucionário

«Chamo-me Bento António Gonçalves, nascido em 2 de Março de 1902, sou natural de Trás-os-Montes, filho de Francisco Gonçalves, camponês, e de Germana Alves (falecida). Comecei a trabalhar aos 13 anos de idade, após conclusão da minha instrução primária, como torneiro de madeira. Aos 16 anos de idade mudei para torneiro mecânico, profissão que ainda conservo. Desde 1919 até Agosto de 1933 trabalhei no Arsenal da Marinha como operário do quadro (oficinas de máquinas). Frequentei a Escola Industrial Afonso Domingues (Xabregas – Lisboa) e tenho o curso elementar de pilotagem (...) Sou dirigente do Partido Comunista Português desde Abril de 1929 e assumo inteira responsabilidade por toda a actividade política do meu Partido».

Esta, uma pequena citação da sua Contestação ao Tribunal Militar Especial e que, escrita na Fortaleza de Angra em 1936, revela, segundo Albano Nunes, «o rico perfil humano e político» de Bento Gonçalves, que veria a sua vida interrompida seis anos mais tarde – 11 de Setembro de 1942 –, no Campo de concentração do Tarrafal.

A sua adesão ao PCP, ocorrendo num período de grandes dificuldades, coloca-o de imediato na primeira linha das responsabilidades de Direcção. Eleito secretário-geral em 1929, lança-se na reorganização do Partido, alargando as suas fileiras, enraizando-o nas empresas e locais de trabalho, fundando o «Avante!», impulsionando um sindicalismo de classe, preparando uma fortíssima organização de marinheiros revolucionários.

Perseguido pelo fascismo, deixa o trabalho profissional e mergulha na clandestinidade, acabando por passar a maior parte da sua vida de militante e dirigente do PCP nas masmorras fascistas de S. Julião da Barra, Aljube, Fortaleza de São João Baptista na Ilha de Angra e Tarrafal, a partir de onde pôde ajudar à implementação de importantes decisões.

Mesmo assim, lembra Albano Nunes, o camarada Bento Gonçalves «teve o mérito histórico de conduzir o amadurecimento marxista-leninista do PCP, libertando-o das nefastas influências anarquistas e também reformistas, que travavam o seu crescimento e afirmação revolucionária. Através do seu intransigente combate ao “reviralhismo” e ao “anarco-sindicalismo” que detinham a hegemonia política e ideológica do movimento sindical e influenciavam numerosas organizações do Partido»

De facto, com Bento Gonçalves o PCP «torna-se uma força organizada e disciplinada, vira-se decididamente para a classe operária, liberta-se do doutrinarismo que fechava ao Partido o caminho das massas, declara guerra ao individualismo e à acção directa individual e coloca a luta de massas no coração da estratégia do PCP». Assim, enquanto «o anarquismo soçobrava» e um «decrépito PS se auto-dissolvia e colaborava na elaboração da Carta do Trabalho fascista», o PCP resistia à violência fascista. «Resistia, combatia, crescia, aprendia com a própria experiência e a experiência do movimento comunista internacional», tornando-se definitivamente na vanguarda do proletariado português, numa grande força política nacional e, indiscutivelmente na grande força da resistência ao fascismo e da revolução de Abril». Um «honroso papel», diz Albano Nunes, de que o PCP «jamais abdicará», por muito que se procure branquear o fascismo, reescrever a História, «diminuir ou mesmo subverter o insubstituível papel dos comunistas na luta libertadora do povo português».
Enfim, «o mundo mudou muito nestes 105 anos que nos separam da data de nascimento de Bento Gonçalves», mas ficam «a sua obra e o exemplo inspirador da sua vida».


Artigo publicado na Edição Nº1736 2007.03.o8
GRAVURA - «frigideira» no Campo de Concentração do Tarrafal

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