A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

quarta-feira, julho 15, 2009

Incompatibilidades

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Causas e consequências

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Constança Cunha e Sá, Jornalista
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Fiado na sua imensa autoridade, o dr. Vítor Constâncio decidiu pregar um raspanete à Assembleia da República por esta se ter imiscuído nos meandros da supervisão. Nem o relatório final da comissão de inquérito ao BPN, feito à sua medida, conseguiu acalmar os ânimos do governador do Banco de Portugal.

O PS, através da deputada Sónia Sanfona, fez o que pôde: ignorando olimpicamente meses de trabalho parlamentar, apresentou um texto inócuo e inconclusivo, recheado de citações oficiais e de desculpas de mau pagador. Imune a este tipo de simpatias, o dr. Constâncio apresentou-se imediatamente ao país, disposto a desfazer qualquer dúvida sobre a sua iluminada pessoa. Ele que, num dia feliz, já confessara a sua santa "ingenuidade", achou-se agora no direito de explicar que a sua extraordinária actuação estava muito acima das capacidades de qualquer deputado.

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Como se viu, só ele, na sua infinita sabedoria, se considera em condições de se avaliar a si próprio, longe da chicana parlamentar e dos golpes sujos da oposição. E ele, como se viu também, considera-se muito: não há falha que o atinja, nem offshore que o diminua. Em guerra aberta com a realidade, o dr. Constâncio acabou, no entanto, por mostrar aquilo que já não consegue ser: um governador do Banco de Portugal.

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Durante anos, com suave persistência, o dr. Constâncio transformou o Banco de Portugal numa espécie de porta-voz oficial do ministério das Finanças, com défices ao sabor do cliente e previsões à altura das suas necessidades. A crise económica alargou-lhe os horizontes, juntando à sua reconhecida incompetência política uma inesperada incompetência técnica que, durante meses a fio, se exibiu, com esplendor, na Assembleia da República. Instrumentalizado pela oposição, o porta-voz do ministério das Finanças acabou por se tornar numa figura menor que, neste momento, incomoda já o próprio Governo. Só ele, na sua megalomania, é que ainda não percebeu que é um triste símbolo de um ciclo que terminou.

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A conferência de imprensa que deu, na semana passada, foi a prova de que já ninguém precisava. Enrolado na sua imensa arrogância, o dr. Constâncio pretendeu apresentar-se como um mártir iluminado, sem compreender que o papel de vítima era o único que já não lhe assentava. O exercício saldou-se, como seria de esperar, num espectáculo mais ou menos patético que confirmou apenas a solidão de um homem que se incompatilizou com o cargo que ainda ocupa. Pior seria impossível.

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in Correio da Manhã -
14 Julho 2009 - 09h00
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