A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

segunda-feira, julho 16, 2007


Impressão Digital - Drogas suspeitas
* Moita Flores,
professor universitário
Por que deixa a PJ cair uma notícia tão gravosa para a sua imagem quando a mesma poderia ser apresentada com o caso já resolvido?
As notícias que deram conta do desaparecimento de cerca de cem mil euros dos cofres da Direcção Central de Investigação do Tráfico de Estupefacientes foram um tiro no pé que a PJ deu na própria imagem e que trazem água no bico. Quem conhece os procedimentos internos sabe que não é um procedimento usual. Vulgarmente, quando um polícia mete a pata na poça a PJ teve (e tem) a virtude de rapidamente investigar, fazer prova contra quem cometeu o crime e, quando as notícias estoiram, já o indivíduo está preso ou foi presente a um juiz. É um procedimento habitual noutras congéneres europeias e funda-se no princípio de que a notícia que dá conta de um crime pode, ao mesmo tempo, autenticar o rigor ético da instituição salvaguardando o prestígio e o carácter dos funcionários.
O noticiário que esta semana atravessou toda a Comunicação Social lança a desconfiança sobre dezenas de investigadores do combate à droga, fragiliza aquela Direcção Central, lança a suspeição. Basta que se conheçam os métodos utilizados quando se apreende dinheiro para desde logo se perceber que um crime destes só pode ter sido cometido por uma ou duas pessoas no máximo. Por que deixa a PJ cair uma notícia que tão graves danos provoca na sua imagem quando a mesma poderia ser apresentada com o caso já resolvido?
Para se compreender tem de se olhar para outro lado. O escândalo estoira na mesma semana em que se prepara a aprovação da nova Lei Orgânica da Polícia Judiciária, cuja leitura revela em primeira mão que, mais uma vez, a PJ vai perder influência no domínio do combate ao crime e ao tráfico de droga. E aqui, perante um silêncio sepulcral da classe política, começam os primeiros passos de um caminho muito perigoso. É que, pelo prometido e em fase de construção, está um projecto de concentração da informação policial, sob a tutela do primeiro-ministro, que na prática reduz as polícias, e em particular a PJ, a meros instrumentos governamentais de acção. É por aqui que se deve perceber a demissão do director do combate à droga, o dr. José Brás, e a inquietação dos dirigentes sindicais da PJ.
Sabendo-se que a informação é o grande negócio da actividade policial, dos muitos disparates cometidos nesta área ao longo de anos, as medidas que surgem não vão no sentido de estabelecer relações coerentes entre polícias, mas de centralizar, com os mais bondosos e cínicos argumentos a informação, nas mãos da tutela política. E é espantoso que esta manobra passe com a cumplicidade e o silêncio de quase todos. Nem as magistraturas, cuja história de defesa dos direitos individuais é um dos maiores contributos ao reforço da democracia, têm reagido a esta descarada governamentalização da informação policial. Um acto típico de regimes musculados e totalitários.
Olhando por este lado, percebemos a importância daquilo que se joga. As notícias enlameando o bom- -nome de muitos profissionais e da instituição são a granada de fumo que escondia a bomba atómica. Não acreditam? Então esperem. Basta a Lei estar aprovada e quase a seguir vamos saber quem desviou os tais cem mil euros. Aposto pelas alminhas que vai ser assim.
in Correio da Manhã 2007.07.15

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