A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

terça-feira, julho 10, 2007


SE FORES PRESO, CAMARADA ....

«Os exemplos de muitos camaradas que se recusaram a prestar declarações mostram que a violência não pode obrigar um comunista a dizer aquilo que não quer»

Penitenciária Intelectual (ou Penúria Intelectual?)
Caríssimos amigos.

de: José Pires

Acaba de aparecer um livro muito esclarecedor sobre a essência do comunismo que recomendo a todos aqueles, que como senhor Manuel O. Pina, parecem pugnar extrenuamente pelo branqueamento daquele beco da História, que tantos e tão graves malefícios trouxe ao mundo e há Humanidade.
Só por isto, os portugueses deveriam agradecer à memória de Salazar,— a barreira que ele constituiu contra aquela ideologia perversa, que ensadeceu tantos espíritos caridosos e bem intencionados.
O livro em questão intitula-se FOI ASSIM, e foi escrito por Zita Seabra, ex-militante comunista e colaboradora próxima e dedicada de Álvaro Cunhal, que se decidiu agora a escrever as suas memórias, nas quais relata, de forma simples, directa e transparente, o que foi a sua adesão ao PC, o que foi a sua acção enquanto militante do PC, o papel que desempenhou durante o PREC ao serviço do PC e, por fim, o processo que a levou à sua expulsão do PC.
Ali poderemos dar-nos conta de como um espírito generoso e feito das mais genuínas e pias intenções pela felicidade da Humanidade, pode ser manipulado e ficar cego perante as realidades, ficando como que anestesiado diante de factos que a quem esteja de fora do domínio do Partido, não deixarão de levantar as maiores angústias e interrogações.
Recomendo, pois, o livro de Zita Seabra a quem quer que honestamente e de boa fé, procure inteirar-se do que é, realmente, a Penitenciária Intelectual que dá pelo nome de Ideologia Comunista. Vale a pena os 18 € que custa!
Já agora, espero ansiosamente que o distinto senho Manuel O. Pina se resolva a fazer um trabalho semelhante ao que está a elaborar sobre Salazar, desta vez dedicado à personalidade de Álvaro Cunhal.
A expectativa cega-me de excitação! Será que o camarada tem estofo para tanto ou que lhe fenece-lhe a coragem? Vamos a ver se as máscaras caem. Definitivamente!
Com amizade
José Pires
in PortugalClub
Subtítulo e realces a azul de VN
NOTA
• Uma luta de 48 anos contra o fascismo
A heróica Resistência
«O PCP foi o único partido organizado que lutou contra o fascismo ao longo dos 48 anos.» A afirmação é de José Vitoriano, durante décadas dirigente do PCP. Segundo conta, a isso se deve o facto de o Partido ter sido o principal alvo da repressão fascista, que remeteu à clandestinidade e à prisão muitos comunistas. Mas não conseguiu travar o Partido e a luta, que cresceram, imparáveis. - (...)
Vida clandestina
Alimentar a revolução
Os funcionários do Partido viviam na clandestinidade, não só para se protegerem da repressão, mas também para garantirem a continuidade da luta e da organização do Partido. A partir do momento em que «mergulhavam», viviam e trabalhavam sem ligação à família, aos amigos e às suas terras, de forma a impossibilitar a sua identificação e localização pela polícia. Ser-se descoberto era pôr o Partido a descoberto e fragilizá-lo. O papel que desempenharam foi fundamental na luta antifascista.
Os homens e mulheres que viviam clandestinos abandonaram os conhecidos, as profissões, as casas, a vida comum, as diversões e tempos livres e trocaram-nos por um futuro incerto e um presente perigoso feito de actos de coragem diária, em que tinham de assumir nomes, personalidades e profissões que não eram as suas e tinham de se desviar dos perigos, das situações de risco, do próprio medo de se ser apanhado pelas autoridades ou simplesmente ser reconhecido na rua por um vizinho, um primo ou um amigo, procurando sempre manter uma aparência de normalidade.
«A vida da prisão era dura, mas a vida clandestina não era melhor. Na prisão estávamos privados de lutar contra o fascismo, mas ainda podíamos contactar com a família. A clandestinidade era um corte total com a família e com qualquer coisa que pudesse indicar onde nós estávamos», refere José Vitoriano. A segurança era o principal critério na escolha das habitações clandestinas. Estas casas tinham de ter o suficiente para dormir, comer e reunir: cama, mesa e instrumentos de cozinha. Muitas vezes sem qualquer preparação, tinham de as abandonar discretamente e mudar para outra habitação, nem sempre na mesma localidade. «Uma vez, eu e a camarada com quem vivia tivemos de sair de uma casa, porque a vizinha reparou que ela não ia à janela às horas de maior movimento», conta José Vitoriano. Se alguém levantasse uma suspeita, os clandestinos imediatamente mudavam de identidade e de casa.
Havia que seguir regras, definidas com base nas experiências boas e más, numa adaptação constante às condições e situações que eram colocadas. O contacto com os militantes legais e clandestinos, os apontamentos dos contactos e reuniões, a transmissão de mensagens, os disfarces, as deslocações, tudo era analisado e cuidadosamente preparado de maneira a não ser descoberto e, se isso acontecesse, de forma a que as informações fossem protegidas.As prisões.
Nos cárceres fascistas
Milhares de comunistas foram presos nos longos 48 anos de fascismo. Para se ter uma ideia basta dizer que os 36 membros – efectivos e suplentes – do primeiro Comité Central do PCP a seguir ao 25 de Abril contavam, em Abril de 1974, com 308 anos de prisão.
Estar preso significava penas arbitrárias e, após o seu cumprimento, medidas de segurança suplementares, que iam de 6 meses a 3 anos, indefinidamente renováveis. Na prática, existia a possibilidade de prisão perpétua. Em geral, o período da prisão era marcado por uma péssima alimentação, a privação de exercício físico, restrições de contactos com a família, ameaças, castigos, isolamentos, ausência de jornais, retirada de livros e correspondência censurada.
José Vitoriano – preso duas vezes, num total de 17 anos – considera que «o fascismo teve a inteligência de não manter nas prisões milhares de presos políticos ao mesmo tempo». No entanto, a maioria foi condenada a longas penas de prisão.
A vida na prisão era organizada em comunas. «Era inconcebível estarmos numa sala com dez pessoas e uns terem uma alimentação suplementar vantajosa graças às encomendas da família e os outros terem como pequeno-almoço um casqueiro e umas borras pretas a que chamavam café. Havia presos de não tinham dinheiro para comprar pasta de dentes ou lâminas para fazer a barba. Não vivíamos de costas voltadas uns para os outros. Procurávamos ter um bocado de manteiga, de marmelada e de leite e assim tornávamos o pequeno-almoço mais substancial», explica. Normalmente, concentravam todos os alimentos enviados pela família e descontavam uma percentagem do dinheiro que recebiam, em geral 30 por cento.
Depois de uma condenação pelo tribunal podiam-se seguir outras. José Vitoriano, por exemplo, foi condenado a mais cinco anos e meio de prisão por os guardas terem encontrado numa rusga a uma cela da cadeia de Caxias o regulamento da comuna, escrito por ele. Revoltado, recorreu para o Supremo Tribunal e foi condenado a mais um ano por ser reincidente. O sistema fascista considerou que existia uma célula do PCP que punha em perigo a segurança interna e externa do Estado. «Isto é uma monstruosidade jurídica, mas existiu», comenta.
«A vida na prisão é sempre dura, de combate com os carcereiros por melhores condições e melhor alimentação, contra a proibição do estudo e da alfabetização. Não podíamos estar encostados à cama, não podíamos estar à janela, não podíamos estar quatro ou cinco a conversar na cela... Uma vez um guarda descuidou-se e deixou cair um papel com uma indicação do chefe que dizia: «O preso deve ter a sensação de que está sempre sob o olhar vigilante do guarda e tem de sentir que está preso», recorda.
Os castigos eram duros e os presos podiam ser encerrados em celas de dois metros quadrados ou sem qualquer tipo de iluminação.«Tínhamos consciência de que na cadeia não se derrubava o fascismo e não fazíamos coisas sem sentido, mas lutávamos em situações de repressão. Em Peniche, uma pessoa como eu não podia requisitar um livro de economia. Para que é que um operário precisava de estudar economia? Proibiam visitas, proibiam conversas políticas… Uma vez impediram-nos de conversar sobre Platão!»
As torturas
A prisão era seguida por sessões de tortura, método usado pelas forças do regime para tentar obter informações sobre a organização do PCP, os seus membros e as suas actividades. Os interrogatórios da Pide eram brutais. Os presos podiam sofrer espancamentos ao murro e ao pontapé, com matracas ou com tábuas; podiam sofrer apertos nos testículos, queimaduras com faíscas eléctricas e com cigarros; podiam ser impedidos de dormir vários dias seguidos; podiam ser obrigados a permanecer de pé, na chamada «estátua»; podiam ser mantidos incomunicáveis durante meses. Eram vítimas de chantagem emocional e as famílias ameaçadas.
«Se fores preso, camarada…» é uma brochura editada pelo Partido que preparava os militantes, partilhando experiências úteis, desmontando esquemas da Pide e dando conselhos, como o que pensar durante os interrogatórios e as torturas, inventar passatempos nos períodos de incomunicabilidade ou não confiar em outros supostos presos, que depois se revelam agentes da polícia. «Os exemplos de muitos camaradas que se recusaram a prestar declarações mostram que a violência não pode obrigar um comunista a dizer aquilo que não quer», afirma o texto.
in Avante 2007.07.05

Sem comentários: