A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

quinta-feira, julho 19, 2007


Soma e Segue

Nem Cristãos, nem Socialistas, nem Humanistas, mas simples adoradores vendidos ao bezerro de ouro


«Reforma só se estiver a morrer»

* Sara Marques


Um cancro roubou-lhe o intestino e obrigou-a a viver com um saco preso à barriga, por onde saem as fezes, sem que tenha controlo sobre elas. Pediu aposentação, mas junta médica diz que professora «não reúne as condições necessárias»

MAIS:
Escola diz que docente precisa de horário flexível

Maria da Conceição Ferrão tem 57 anos e passou mais de metade da vida a dar aulas. Há dez anos, um cancro no cólon obrigou-a a uma operação em que lhe retiraram parte do intestino e que lhe mudou a vida. Fez quimio e radioterapia e vive com um saco colector preso à barriga, por onde lhe saem as fezes, sem que tenha qualquer controlo sobre elas. Juntas médicas declararam-na incapaz para exercer funções docentes, mas quando pediu aposentação, responderam que «não reúne as condições necessárias».

Com a serenidade de quem já vive nesta situação há 10 anos, a docente contou ao PortugalDiário a sua história. Em 1997 foi-lhe diagnosticado um cancro no cólon e foi submetida a uma colostomia, uma cirurgia em que lhe retiram parte do intestino e lhe coseram o ânus. Desde então vive com um saco colector preso à barriga, do lado de fora, por onde saem as fezes.

«Por não haver músculo, não tenho controlo sobre a saída das fezes. É como se fosse incontinente», conta. O saco vai enchendo e tem de ser trocado várias vezes, situação que se agrava quando tem descargas intestinais, cerca de uma vez por semana, altura em que «o saco enche de imediato, chegando por vezes a rebentar», sem aviso prévio, nem forma de evitar.

«Esteja onde estiver, tenho de voltar para casa e tomar banho», explicou. Depois, sente uma «enorme exaustão» e precisa de se deitar para descansar. «É difícil por isso cumprir horários, porque os intestinos não os têm», lamentou.

A docente conta que, devido a este problema, já teve de passar mais de uma hora na casa de banho a trocar os sacos e foram muitas as vezes em que foi trabalhar de manhã e teve de voltar a casa para tomar banho e trocar de roupa.

Além disso, conta que também não tem controlo sobre a saída de gases, sendo que ocorrem em qualquer sítio, mesmo em frente aos alunos. «Trabalho com alunos de 10/11 anos, que, por isso, não têm problema em dizer que a professora cheira mal», conta.

Apesar das restrições que a doença lhe provoca, só em 2006 pediu a aposentação. «Tive dois anos de licença que a lei permite e, quando voltei, uma junta médica da Direcção Regional de Educação declarou que eu tinha 80 por cento de incapacidade e, por isso, dispensou-me totalmente da componente lectiva». Assim, Maria da Conceição cumpria 20 horas semanais na escola sem ter turmas a seu cargo, mas sempre trabalhando com alunos. Esteve colocada na biblioteca, em apoio a alunos com necessidades especiais e grupos de estudo acompanhado.

De seis em seis meses era submetida a juntas médicas de rotina, mas o parecer era sempre o mesmo, «incapacidade para exercer funções docentes». Ainda assim, nos últimos anos, passou a ser obrigada a cumprir 35 horas semanais. «Entro às 9.15 e saio às 5 ou 6 horas. Na minha situação é muito cansativo», explicou. Passados quatro anos, em Dezembro de 2006, pediu a aposentação.

«Nem sei se eram médicos»

Foi presente a uma junta médica em Coimbra, que não demorou muito a decidir. «Perguntaram-me o nome e a idade. Dei-lhes o relatório da médica de oncologia que me acompanha no IPO, que leram atentamente. Depois perguntaram-me os motivos que me levaram a pedir a aposentação. Disse-lhes que era colostomizada, mas acho que eles nem perceberam o que isso é, nem sei sequer se eram médicos. Puseram uma cruz à frente do meu nome e mandaram-me embora».

Maria da Conceição nem duvidou que teria a reforma antecipada. Mas não foi isso o que aconteceu. Algum tempo depois, a escola recebeu um relatório da junta médica que dizia que a docente «não reunia condições para a aposentação». Maria da Conceição não esconde a revolta. «Só dão a aposentação a quem está às portas da morte». «Parece que o Estado se esqueceu de que tenho 33 anos de serviço», desabafa. Agora, vai esperar nove meses para poder voltar a pedir a aposentação.

Contactado pelo PortugalDiário, o presidente do Conselho Executivo da Escola EB 2/3 Dr João de Barros, na Figueira da Foz, onde lecciona Maria da Conceição Ferrão, admite que a docente «precisa de um horário mais flexível».

«Devido ao problema de saúde que tem, por ter de trocar o saco várias vezes, devia ter um horário flexível que, para já, não é permitido», afirmou Adelino Matos, que adiantou que «a escola está a cumprir o que está estipulado na lei. Não podemos fazer mais nada».

O responsável preferiu não se pronunciar sobre o pedido de aposentação, por considerar que «os médicos é que devem avaliar».

Maria da Conceição Ferrão, explicou que o presidente do conselho executivo chegou mesmo a aconselha-la a fazer uma exposição à ministra da Educação, para pedir a flexibilização do horário. A docente está ainda a decidir se vai avançar ou não com esse pedido, por temer que possa atrapalhar o processo de aposentação.

Apesar de considerar que «é bom continuar a trabalhar», já que lhe permite abstrair-se um pouco da doença, reconhece que não aguenta trabalhar tantas horas nesta situação

In Portugal Diário 2007.07.16 http://www.portugaldiario.iol.pt/noticia.php?id=832492
Quadro; Hieronymus Bosch (c. 1450-1516). A Morte e o Avarento (c. 1490). Óleo na madeira (93 x 31 cm) - National Gallery of Art, WashingtonApesar de pertencer a outro tempo, Bosch olha para trás e retrata temas medievais, embora com perspectiva distinta. Na cena, um anjo suplicante (à direita) intercede junto à luz de Cristo pela alma do avaro que, mesmo em seu leito de morte, recebe de um monstro o lucro sujo de sua usura. Repare na face macilenta da morte, vestida de branco e portando uma fina seta, e nos estranhos seis seres que espreitam a cena, desde o anjo maléfico de negro acima da capa, até o homem-rato que recebe a moeda do contador do usurário no cofre. Observe que mesmo com todo o ambiente sinistro da pintura, ainda há esperança para o avaro, coisa impensável trezentos anos antes.
Cique na imagem para ver com mais pormenor

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2 comentários:

Kalinka disse...

Olá Mano Victor
Pegando nas tuas palavras:
...A vida e a a «amizade» ou «estima» são fogachos
Na vida real e muito mais na WEB
Nunca digas NUNCA! porque o SEMPRE não existe ...
Quase tudo não passa duma feira de vaidades ou de voltas à volta do umbigo!

DIGO-TE:
Fogachos...não com toda a certeza!
AMO a VIDA e prezo muito as Amizades.
DEPOIS: Nunca disse que NUNCA voltaria cá para te ler ou visitar, apenas o meu tempo tem sido pouco ou nenhum, venho postar e pouco mais e se reparares posto sempre depois das 00.00h - meia-noite e é de fugida que vou ao computador; o meu marido está já de férias e condiciona a minha vida e eu vou de férias para a semana e, tenho trabalho com fartura para deixar orientado...
não sejas tão radical, Mano.

Tem calma, paciência!!!
Penso que a minha Vida só voltará ao que era antes depois de Setembro, até lá vão ser as minhas férias, depois as férias da minha colega...

Beijitos.

Kalinka disse...

Mano
a realidade é dura, crua, triste, insuportável por vezes e...tento fugir à minha maneira desta estúpida realidade. Não procuro saber, se calhar ler, ouvir, paciência, mas...procurar ESTÁ FORA DE QUESTÃO...
e, não tenho nada contra o teu blog nem contra ti mesmo, só que vir ler esta crua e dura realidade não me agrada, percebes?
Além do pouco tempo que tenho(e tu, neste momento não podes entender porque tens todo o tempo do Mundo) mas tens que tentar pôr-te no lugar de quem trabalha todo o dia e bem longe de casa, quantas e quantas vezes chego a casa pelas 20h 30m, para ainda ir tratar das coisas todas e termino de jantar pelas 22h 30m e tudo o resto leva-me a sentar ao computador perto da meia-noite (entende-me, por favor)...
Quando acreditares em mim, talvez já seja tarde...Mano.

Vai aparecendo, lê o kalinka e deixa sempre uma palavrinha de carinho, pode ser? Eu preciso.

Beijokas.