A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

domingo, julho 01, 2007




Dinheiro
JBs, os mecenas do Benfica
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À primeira vista, entre Jorge de Brito e Joe Berardo, apesar da mesma origem modesta, pouco ou nada haveria em comum.
O primeiro era um homem discreto e reservado, que detestava o espalhafato, ou sequer dar nas vistas. Nasceu em Queluz e considerava-se um lisboeta da gema. No fundo, tinha um certo desprezo pelo dinheiro. Joe Berardo é um superactivo, extravagante, indiscreto, que adora os grandes gestos e fala pelos cotovelos (dizem alguns que em ‘berardês’), tanto é capaz de uma magnanimidade, como de uma impiedosa crueldade. Nasceu na Madeira e adora o dinheiro não tendo o menor rebuço em o proclamar. Mas as diferenças ficam-se por aqui e as parecenças são quase perturbadoras para quem conheceu os dois homens mais de perto.
Anotem:
a) Ambos se sentiram atraídos pelas artes e se fizeram grandes coleccionadores;
b) Ambos fizeram do Benfica uma paixão e investiram no clube (ou vão investir, no caso de Berardo) vultuosas somas em dinheiro;
c) Ambos sentiram desde muito novos uma atracção irresistível pelo sector financeiro;
d) Ambos se fizeram grandes empresários, Brito criando uma grande empresa de auto-estradas, a Brisa, e fundando o Banco Intercontinental Português (BIP), Berardo várias empresas, com a Metalgest como ‘holding’ de um já poderoso grupo e já anda a falar na criação de um Banco;
e) Ambos emigraram para África enquanto jovens, à procura de um ‘el-dourado’;
f) Ambos são (foi, no caso de Brito) especuladores na Bolsa;
g) Ambos sentiram, e investiram na comunicação social, Jorge de Brito comprando o saudoso ‘O Século’, Berardo o ‘Record’ e outras publicações e mais uma quota de 24,99% da SIC;
h) Ambos foram dirigentes desportivos, Brito vice-presidente e presidente do Benfica, Berardo presidente da Assembleia Geral do Marítimo;
i) Ambos são ‘self-made men’, Brito mais culto e recatado, Berardo mais prático e realista.
POR CAMINHOS DIFERENTES
Mau grado todas estas afinidades, os dois JB’s seguiram na vida caminhos bastante diferentes.
Jorge de Brito começou a trabalhar cedo e aos 18 anos era empregado de balcão do Banco Espírito Santo. Não por muito tempo, pois partiu para Angola, mais concretamente para Cabinda, onde pensava poder fazer fortuna. Umas complicações amorosas com a mulher de um oficial do Exército fê-lo regressar pouco depois a Lisboa, onde acabou por ir trabalhar para uma fábrica de refractários, onde conheceu uma sobrinha do proprietário, Isabel Henriques, com quem casou e teve seis filhos. Mas não perdia uma ocasião de ganhar dinheiro. Ainda na década de 50, passa pelo Algarve e, em dias apenas, compra o hotel em que ficara, com o apoio do BES, e quando volta a Lisboa pouco depois, vende-o com mais de mil contos (naquele tempo ) de lucro.
Põe-se a trabalhar por sua conta, intermedeia grandes negócios (BPA, Cervejas Estrela, etc), mete-se, por fim, numa casa bancária. Com o advento do Marcelismo e a protecção de Marcelo Caetano consegue, em 1972, perante o espanto do País, ser autorizado a transformar a sua pequena casa bancária no Banco Intercontinental Português.
Era o grande empresário da era marcelista, o mais conhecido e admirado Mecenas, pois nunca deixou de comprar arte. Com o 25 de Abril a sua estrela começou a empalidecer, o banco foi nacionalizado e Jorge de Brito é preso e metido em Caxias.
Que fazia, entretanto, Joe Berardo? Depois de emigrar para a África do Sul, com cerca de 18 anos e um conto de réis na algibeira, corre a via sacra dos emigrantes sem uma profissão, desde empregado de mercearia a ajudante de pedreiro. A história da sua rápida fortuna conhece diversas versões na África do Sul do ouro e do ‘apartheid’, que ele nunca se preocupou muito em esclarecer. A que é sugerida a quem tenta de algum modo desvendar o mistério é a da recuperação dos grandes montes de entulho e terra, que podem ver do ar, em redor de Joanesburgo, todos os que já viajaram de avião para a África do Sul. São os resíduos da exploração de milhares de minas de ouro. Um velho mineiro japonês que Berardo conhecia inventou uma forma de recuperar, desses montes de pedra e terra julgados sem valor, uma porção significativamente comercial daquele precioso metal.
A história conhece a partir daqui diversas pistas. Uma coisa é certa, quando voltou a Portugal, de livre vontade ou, ao que alguns dizem, pressionado pelas autoridades sul-africanas, Joe Berardo já era um homem rico. De então para cá, ele só fez por multiplicar exponencialmente a sua fortuna – e esse é um mérito que ninguém lhe pode tirar. De algum modo, a sua vida lembra aqueles filmes sem epílogo, que deixam à imaginação de cada um a liberdade de escolher o desfecho que mais lhe agradar. (...)
Joe Berardo, que foi proprietário de uma espampanante moradia na Quinta da Marinha, com duas piscinas, um imenso relvado, etc (que acabaria por vender ao ex-presidente do Benfica Manuel Damásio por 700 mil contos), tem a mania das casas. Tem cerca de 15, espalhadas pelo Mundo: em África, na América, no Canadá, no Funchal, em Lisboa, onde tem várias. A maior parte do tempo está agora na Av. Infante Santo.
- Pouca gente sabe, mas José Berardo, o 9.º homem mais rico do País, aos 12 anos, como os filhos de quase todas as famílias pobres, andou no seminário, com seu irmão Jorge Berardo, fingindo, como os rapazes da sua época que tentaram por aí umas habilitações literárias, que tinha vocação para padre. Como se vê hoje, esteve lá pouco tempo (...)
in Correio da Manhã 2007.06.30

1 comentário:

Anónimo disse...

olá. li o teu comentario no meu blog e não o entendi. bjo. carla granja