Literatura:

Miguel Pais do Amaral agita mercado

O barão dos livros

* Sofia Canelas de Castro

Miguel Pais do Amaral soma e segue à conquista do mercado livreiro. Esta quinta-feira deu mais um passo em direcção ao reinado dos livros ao estabelecer o primeiro acordo oficial para a aquisição da Editorial Caminho, a empresa que publica José Saramago.

Aliás, o Nobel da Literatura – tal como os restantes autores do portfólio da Caminho – foi mesmo consultado antes da concretização do negócio. E, sabe o CM, esteve presente, com a mulher, Pilar, na assinatura do contrato de promessa de compra e venda para aquisição da editora. Em três meses, Pais do Amaral e o sócio, Nicolas Berggruen, irromperam pelo mercado livreiro e esta é já a terceira editora que adquirem, depois da Texto Editores e da Asa. Em cima da mesa das compras do Conde de Anadia estão ainda a Plátano e a Gaia Livro.

“Antes da decisão de vender, considerámos a opinião de todos os autores”, confirmou ao CM Zeferino Coelho, director editorial da Caminho, fundada pelo Partido Comunista Português em 1975.

“E posso dizer que houve unanimidade”, acrescentou. Zeferino Coelho mantém-se a gerir o catálogo de autores da empresa onde trabalha há 30 anos e, diz, “onde gostaria de continuar por mais 30”.

Sobre o negócio – do qual não revela valores –, o responsável justifica que é uma “adequação da editora a uma alteração do mercado nos últimos anos”, sublinhando ainda que “a entidade compradora assegurou que vai manter a estratégia da Caminho e o mesmo catálogo”.

Com uma facturação na ordem dos cinco milhões de euros, a Caminho junta-se – sobretudo com o prestígio do seu catálogo – ao ‘bolo’ já formado pela Texto (cerca de 30 milhões de euros de facturação em 2006) e pela Asa (16 milhões). Ainda assim, mesmo que se concretizem as negociações com a Plátano e com a Gaia Livro, Pais do Amaral não conseguirá destronar a Porto Editora, cujo volume de negócios ronda os 70 milhões de euros.

Num mercado que ultrapassa os 500 milhões de euros, de acordo com António Baptista Lopes, presidente da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), “a liderança da Porto Editora, fortemente implantada no sector de livros escolares, não será abalada”. Mas “o grupo de Pais do Amaral, com os projectos de aquisição em curso, projecta-se como candidato a ser um dos três maiores grupos de edição em Portugal”, ranking que integra a Porto Editora e o grupo alemão Bertelsmann (que detém o Círculo de Leitores e a Bertrand), que facturam anualmente perto de 80 milhões.

Os negócios de Pais do Amaral – que, ao CM, não quis comentar o negócio – têm agitado o mercado. E vão continuar. Pais do Amaral, garante fonte próxima, não manterá funções executivas nas editoras, à semelhança do que já acontece na Texto Editores (a cujo Conselho de Administração preside), mas cujas funções executivas estão a cargo de Isaías Gomes Teixeira.

Mas, acrescenta a mesma fonte, “tem ambições de comprar o que estiver disponível para aquisição a preços razoáveis”. A continuar assim, não tarda que a Autoridade da Concorrência intervenha para evitar a posição dominante do Conde no mercado emergente.

PERFIL

Miguel Maria de Sá Pais do Amaral, Conde de Anadia, nasceu há 52 anos em Lisboa, onde concluiu Engenharia Mecânica. Depois de um MBA em Paris, foi como ‘broker’ da Goldman Sachs novaiorquina que se iniciou profissionalmente. No final dos anos 80 entrou no negócio da Comunicação Social com ‘O Independente’. Recentemente vendeu a participação accionista da TVI aos espanhóis da Prisa e aposta agora forte no mercado livreiro.

in Correio da Manhã 2007-07-01