A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

segunda-feira, julho 02, 2007


Seca provoca as guerras do século XXI
Terra em risco
* João Saramago/P.H.G./Miguel Azevedo
ONU defende que alterações climáticas, aumento da população e poluição provocarão uma forte escassez de água em África e na Ásia.
Mais de mil milhões de pessoas no Planeta não dispõem de um copo de água limpa e 25 mil de entre elas morrem diariamente devido a doenças como a febre amarela ou a malária, provocadas pelo consumo de água de má qualidade. Quinze por cento da população da Terra vive numa situação insustentável e as alterações climáticas só irão trazer mais ameaças.
Previsões das Nações Unidas apontam para um redução da precipitação nas zonas onde os recursos hídricos são, já hoje, mais escassos.
A água – ou melhor dizendo, a sua falta – será o maior problema do século e a escassez do “ouro azul” pode provocar uma série de conflitos nos rios mais problemáticos: Jordão (tensão entre Israel, Jordânia e Palestina); Eufrates e Tigre (Iraque, Síria e Turquia); Nilo (Sudão, Etiópia, Quénia e Egipto); Mekong (Cambodja e Vietname); Okavango (Botswana, Angola e Namíbia); Ganges (Índia e Bangladesh) e Brahmaputra (Índia e China).
Recorde-se que a Guerra dos Seis Dias em 1967, que opôs Israel aos vizinhos árabes teve origem numa disputa de água, quando Israel pretendeu desviar o curso do rio Jordão. No final do conflito, Israel adquiriu o controlo exclusivo das águas da Cisjordânia e do Mar da Galileia, recursos responsáveis por cerca de 60 por cento da água potável do país.
DEZENAS DE CONFLITOS
Segundo as Nações Unidas, “nos últimos 50 anos verificaram-se 37 casos de violência declarada entre Estados devido à água, sete deles no Médio Oriente”. O último relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) sustenta, contudo, que “em igual período foram negociados mais de 200 tratados relativos à água”.
A organização desafia assim as previsões de que “a crescente competição pela água irá inevitavelmente causar conflitos armados” e defende que a cooperação transfronteiriça sobre os rios tem sido bem sucedida, mesmo entre países inimigos como a Índia e Paquistão.
Perante um cenário em que é estimado em três mil milhões o número de pessoas que viverão em países a braços com secas em 2025, Kevin Watkins, principal autor do relatório das Nações Unidas, afirmou que está nas mãos dos políticos decidirem se “a gestão de recursos hídricos partilhados pode continuar a ser um motor para a paz ou para o conflito”.
Segundo a organização não-governamental britânica Tearfund, a falta de água provocará também altas nos preços dos produtos agrícolas e novas vagas de imigração para os países ocidentais, aqueles que serão menos atingidos pelas secas.
Se os acordos transfronteiriços são a solução avançada para a ameaça de conflitos, alargar a oferta de água potável é o caminho para reduzir as mortes por doença.
As Nações Unidas estabeleceram em 2000 o objectivo de reduzir para metade, até 2015, os 1,2 mil milhões de pessoas que não tinham água potável. As prioridades máximas para a instalação de infra- -estruturas são a Mauritânia, Líbia, Etiópia, Madagáscar, Oman e Pápua Nova-Guiné.
Uma das causas para a má qualidade da água é a poluição.
Na China, quinto maior país em reservas renováveis de água após o Brasil, Rússia, EUA e Canadá, o problema ganha maior dimensão. Pequim considera que o maior desafio deste século para o país passa por ficar de fora da lista dos Estados pobres de água que ameaça englobar a maior parte dos continentes africano e asiático.
'ESCASSEZ PODE CONDUZIR AO AGRAVAR DE CONFLITOS'
CM – Na África sub-sariana a maioria da população não tem um copo de água potável. Isso explica que milhares arrisquem a vida no mar para chegarem a Espanha?
Loureiro dos Santos – A falta de água potável é uma parcela do conjunto de motivos que levam esses jovens a emigrarem. A água é um bem essencial vital mas extremamente caro e raro nos países onde vivem.
– Estados com falhas na distribuição de bens essenciais são particularmente vulneráveis a conflitos
– A ausência de um bem essencial perante um cortejo de reivindicações e insatisfações é motivo para grande instabilidade interna e torna um país muito vulnerável a conflitos externos.
– Entende então que o objectivo da ONU em reduzir para metade as pessoas sem acesso a água potável constitui uma medida pacificadora?
– Sim, traduz a redução de um foco de potencial instabilidade e abre novas perspectivas a esses países.
– Existem, no entanto, previsões de agravamento das secas. Isso cria uma tensão bélica?
– No Médio Oriente e em África a escassez pode conduzir ao agravar de conflitos pelos recursos hídricos, o que pode comprometer os objectivos das Nações Unidas.
'A CULPA É DE UMA MÃO BEM VISÍVEL: A HUMANA
Correio da Manhã – Em que altura despertou para os problemas ambientais?
– Há fases da vida que nos levam a ganhar maior consciência ambiental, uma delas é a adolescência, quando nos descobrimos a nós próprios, descobrimos os outros e começamos a pensar no ambiente que nos rodeia. Hoje tenho a perfeita noção de que chegámos a um momento-chave em que voltamos a página ou fechamos o livro.
– Quais os problemas que mais o preocupam?
– Aquilo que mais me assusta é, sem dúvida, o aquecimento global e a forma como não conseguimos prever seja o que for tirando desastres sucessivos. Depois temos a poluição. Há espécies animais a desaparecer por culpa de uma mão bem visível: a humana.
– De que forma procura contribuir para a preservação do ambiente?
– Não sou propriamente um activista. Não consigo, por exemplo, ter o discernimento mental para separar o lixo todos os dias. Ainda assim, acho que o meu grande pecado são os aquários que tenho em casa e que me levam a gastar alguma água. Mas todos nós temos o direito a pecar, até porque o ambiente não deve ser uma maçã proibida. Se o ambiente for tratado como um tabu então é que é meio caminho andado para ninguém o respeitar.
– Enquanto músico, que lugar ocupa a poluição sonora na sua lista de preocupações ambientais ?
– Nós músicos estamos muito expostos ao ruído e aos decibéis, mas penso que o mais importante é daqui a uns anos todos nós sermos capazes de ouvir o silêncio. Preocupo-me com isso diariamente. Nós, por exemplo, tentamos criar espaços dentro do nosso espaço de ensaio.
– Pode a música sensibilizar as pessoas para a preservação do ambiente?
– Não tenho dúvidas nenhumas. O Live Earth é uma iniciativa louvável, já que os problemas do ambiente devem ser comunicados a uma escala mundial.
– Durante a actuação no Pavilhão Atlântico os Blind Zero vão tentar passar algum tipo de mensagem?
– Certamente que vou falar no assunto, mas o evento já fala por si. Não se pode confundir o concerto com um comício e por isso, não vou falar muito.
TRÊS MEDIDAS PARA SALVAR O PLANETA
1. - Sensibilizar as pessoas para a evidência científica de que a preservação da espécie humana, a médio termo, depende crucialmente da preservação da Terra e das suas diversas formas de vida, num equilíbrio global.
2. - Tornar prioritária, e urgente, uma optimização da utilização global dos recursos, escassos e mal distribuídos – água, alimentos, cuidados médicos e energia, mas, acima de tudo, o conhecimento, porque esse é essencial aos restantes.
3. - Moderar o desperdício acelerado das matérias-primas nesta corrida frenética de “usar e deitar fora” para substituir por novo, em quase tudo. Computadores, relógios, ferramentas e utensílios são apenas alguns dos exemplos.
Teresa Lago, professora universitária e directora do Centro de Astrofísica no Porto
in Correio da Manhã 2007.06.29
Foto: STR/Reuters

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