A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

terça-feira, setembro 25, 2007

Aprender a negociar?


* Jorge Messias
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Só visto, que contado não tem graça. Maria José Nogueira Pinto - a «política de Deus», a «empresária dos pobres», a face da «caridade lucrativa» - apareceu nos jornais a declarar que «a Igreja tem de aprender a negociar». Sem corar de vergonha e sem que um músculo lhe tremesse na face. A mulher que em tempos lembrou aos patrões que «a Caridade dá lucro» veio agora a público dizer aos católicos: «Temos de ser agentes de Deus no reino de César». Introduziu o clima propício aos trabalhos da Semana Social da Pastoral em que participou; depois, voltou aos «negócios do senhor Júlio César», como diria Brecht.
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E não são pequenas as operações financeiras e políticas que a ex-provedora da Santa Casa conduz. Desde as lotarias e do Euromilhões aos poços sem fundo da Baixa Chiado ou ao meganegócio das novas creches que Sócrates teve a simpatia de entregar à Igreja, confirmando um pendor pessoal para a santidade; da gestão dos mil milhões de euros que o governo socialista vai pagar anualmente à Acção Social da Igreja, à exploração das infinitas possibilidades abertas pela manutenção em vigor da Concordata de 1940; da condução do nebuloso caso das ATL à escolha das estratégias das Misericórdias nos complexos negócios do Turismo, das energias alternativas, do ensino privado, dos media, dos aeroportos, da Saúde, da banca, das autarquias, da regionalização, do imobiliário, da imigração – em tudo a Igreja está metida e em tudo Maria José tem uma palavra decisiva a dizer.
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Ela é, na realidade, uma poderosa super-ministra.

Ir sempre mais além ...

Como lobby empresarial e político, nunca o poder da igreja foi tão esmagador como o é agora. Já não interessam a religião e a ética. O que move a Igreja é o lucro e a contínua expansão: ir mais além. A posição católica é sólida, em Portugal.
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De Nogueira Pinto, sabe-se o que ela foi, o que é e o que quer ser. Mário Soares, o «agnóstico republicano e socialista», íntimo da Comunidade de Santo Egídio (a diplomacia paralela do Vaticano), subiu à presidência da Comissão da Liberdade Religiosa, estrutura que tem tudo a ver com a Concordata e com as demais confissões religiosas. Outros socialistas ou independentes, sensíveis ao poder da Igreja, como António Guterres, Jaime Gama, Jorge Sampaio, Bagão Félix, Vieira da Silva e muitos outros políticos influentes, ocupam os grandes centros de decisão. O mesmo se passa com o numeroso núcleo do Opus Dei, ligado à banca, às bolsas, à administração pública, ao aparelho judicial, ao mundo hospitalar e do ensino, etc.
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A telenovela das grandes fusões de capitais vai permitindo que a ala financeira eclesiástica portuguesa e espanhola ganhem o tempo necessário à sólida estruturação do capitalismo ibérico. É o caso não só da tão badalada OPA frustrada sobre o BCP mas também daquilo que se passa com a entrada em cena, na área social, do grupo «La Caja», o accionista principal do BPI, Gás Natural, Repsol e Telefónica. «La Caja» resultou da fusão das principais Cajas de Ahorro (Caixas de Aforro) da Catalunha. Tem raiz católica e distribui pelas IPSS 25% dos seus astronómicos lucros anuais.
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Dispõe de 4 mil milhões de euros para gastar em Portugal. Pode, sozinha ou em parceria, comprar as áreas do ensino, da saúde, da segurança social, da habitação, etc.
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Ou seja, para dominar Portugal, a Igreja Católica nem precisa de se pôr muito em evidência. Pode, por exemplo, comprar Lisboa, por absurdo que isto possa parecer.
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Quando Nogueira Pinto fala (ou outros como ela) nunca fala por falar. Joga com valores. Marca posições atirando com as palavras como se fossem pedras. Mas encobre as pedras com dedos de veludo. Quer mais dinheiro e fala em caridade. Quer mais poder e apela à conciliação. Tem clara noção dos objectivos a atingir, conhece métodos precisos mas finge não saber negociar. É uma perfeita jesuíta. No plano político trata-se de uma mulher perigosa.
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Maria José teve uma nova ideia brilhante nas guerras do «combate à pobreza».
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Primeiro, as IPSS acordam entre si uma «carta de princípios» que as une nos mesmos propósitos. «Salvaguardando o núcleo duro dos valores distintivos da intervenção cristã, as instituições passam de uma postura reivindicativa a uma verdadeira capacidade negocial». Como? O Estado reconhece as IPSS como parceiras no «Combate à Pobreza». Depois, estabelecidos Igreja e Estado em pé de igualdade, o Poder decreta, pura e simplesmente, que a pobreza é ilegal, contrária aos Direitos do Homem e às condições de cidadania. Logo surgirão os financiamentos necessários para combater a pobreza na área social...
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Interessante proposta feita por um dos geradores de pobreza ao outro parceiro que detém o poder capitalista. Porque toda a gente sabe que é este governo que decreta o «aperto do cinto» aos mais pobres e abre caminho à brutal acumulação dos lucros dos mais ricos. Portanto, é gerador de pobreza e cúmplice da exploração. Quanto à Igreja Católica, deixemo-nos de meias palavras: os seus objectivos ocultos são o dinheiro dos lucros e a estratégia da ocupação do Poder.
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in Avante 2007.08.30
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Foto - Marcinkus, o Banqueiro de Deus, com o papa João Paulo II
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