A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

quinta-feira, setembro 13, 2007

Que sucedeu a Maddie? (9) - Os incríveis pais

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* Isabela
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Imaginam que os pais de uma criança desaparecida possam sentir grande disposição para dar entrevistas semanais à imprensa cor-de-rosa, posando sentados em sofás caros, e no chão, sobre almofadas, lendo as inúmeras cartas de apoio recebidas e espalhadas pela carpete?! Embora me esforce por me sentir na pele dos outros - é um exercício que realizo para conseguir situar-me imparcialmente face às situações - nunca imaginaria tal coisa. O meu horizonte emocional não o permitiria. Nunca vi pais de crianças portuguesas desaparecidas aparecerem senão em notícias de jornal, reclamando sobre a impotência dos meios disponibilizados para investigar os respectivos casos.
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No entanto, na última semana deparei-me com três ou quatro capas da Lux, Gente, Caras, etc. alimentadas pela imagem dos pais de Maddie, ampliando a brutal campanha de marqueting pessoal que têm levado a cabo nestes meses. A vida dos pais de uma criança desaparecida tornou-se uma notícia de sociedade. Um caso muito negro enche páginas cor-de-rosa. Os pais da criança são igualmente cor-de-rosa: médicos lourinhos, branquinhos, magros e bem relacionados. Não gostamos deles, pois não. Como poderíamos?! Não está em causa se têm alguma culpa no caso. Isso transcende-me. Supreeender-me-ia bastante que os pais de uma criança aparentemente tão desejada, a ponto de ser concebida com recurso à procriação medicamente assistida, pudessem de alguma forma estar envolvidos em cenários tão macabros como os que os comentadores, e alguns jornais, sugerem. Os pais de Maddie poderão estar inocentes como anjos. Mas, na nossa cultura, os pais desesperados não têm assessores de imprensa que 'mandam dizer' aos jornalistas. Que decidem pronunciar-se, ou não, conforme estes se portam bem ou mal, ou seja, conforme lhes são mais ou menos favoráveis. Se calhar sou eu que sou antiquada, mas na nossa cultura os pais desesperados não se passeiam em carros de luxo nem acedem a vivendas a estrear, emprestadas. Na nossa cultura os pais desesperados não são recebidos pelo responsável do quartel-general das investigações sobre desaparecimentos, nos EUA. Nem pelo papa. Não fazem tours pelo mundo, como se fossem embaixadores da UNICEF. Na nossa cultura, os pais desesperados desesperam, e os de Maddie parecem-nos tão calmos e conformados com a demora nas investigações. Imagino que seja efeito dos calmantes com que se automedicam. Sinceramente, espero que tanta serenidade seja trabalho do Xanax e do Sedoxil. Isso poderia compreender. Quanto ao resto, gostaria que o peluche de Maddie que a mãe transporta para todo o lado, nas mãos, pudesse falar. E fala, não fala? Parece-me que fala.
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Publicada por Isabela em Quarta-feira, Setembro 05, 2007
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Os incríveis pais de Maddi
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Foto: Luís Forra/Lusa

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