* João Marques dos Santos,
Advogado
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O PSD tornou-se um partido pouco mais do que inútil com um líder impedido de fazer verdadeira oposição.
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Politicamente (o que significa social e economicamente) estamos numa encruzilhada sem sinalização. Quer dizer: perdidos. E não há PSD que nos salve. Sócrates combate o défice (o inimigo mais fácil de derrotar) pelo método do merceeiro, com a obstinação com que D. Quixote combatia moinhos. Mas não liga a menor atenção aos outros grandes inimigos do bem-estar social.
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Em pouco mais de dois anos, o Governo agravou substancialmente as condições de vida dos Portugueses e nada se incomoda com isso. E, porque as suas preocupações foram transformadas em obsessão, promete piorar. Para quê, afinal? Sarkozy apresentou o seu 1.º orçamento de estado e mandou às malvas as regras instituídas por todos os papagaios do combate ao défice. Os impostos baixam, mas há mais crescimento económico. Com a baixa dos impostos, aumenta a confiança dos investidores e das famílias. Há mais transacções. Maior rendimento das empresas. E, surpresa das surpresas, até o défice e a dívida pública baixam.
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Alguém será capaz de explicar isto a todos os Ferreira Leite e Teixeira Santos cá da terra? A todos os iguaizinhos gurus do combate ao défice que se não distinguem pelo tom laranja ou rosa das suas preferencias? É por estas e por outras que em condições normais com a eleição do líder do PSD teríamos hoje uma decisão da máxima importância para o futuro do País. Infelizmente não é essa a perspectiva. Sabemos já o que nos espera se o escolhido for Mendes. E não é difícil adivinhar o que acontecerá se a balbúrdia da votação sorrir a Menezes.
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O governo Sócrates, com as suas decididas incursões pelos terrenos da direita, não inaugurou uma nova forma de governo, mas desencadeou um fenómeno único. Não foi só Sócrates que descaracterizou o PS com as suas opções políticas. Também a direita se descaracterizou, quando deliciada com as iniciativas do 1.º ministro o começou a tratar com mais carinho (político...) do que trata os seus, apoiando quase todas as suas iniciativas na área económica e financeira.
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A direita tradicional instalada no PSD queria tudo. Um 1.º ministro voluntariamente decidido a mostrar serviço à direita para lhe tolher os ímpetos oposicionistas e um partido forte que pudesse aparecer quando a solução Sócrates se esgotasse. Mas a oportunística postura desta direita impediu-a de antever as consequências da contradição.
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O PSD tornou-se um partido pouco mais do que inútil com um líder impedido de fazer verdadeira oposição. Por isso, estão perfeitamente indiferentes ao que possa acontecer hoje. Também na política é impossível ter dois amores. E os barões do PSD ao ‘flirtar’ descaradamente com Sócrates destruíram a harmonia do lar. A escolha, para os barões do PSD, não é entre Mendes ou Menezes. É entre Mendes e Sócrates. Ou Menezes e Sócrates. E essa já foi feita há muito tempo. Porque Sócrates é que continua a ser a sua grande esperança.
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O que o PSD possa ou não vir a fazer nos próximos dois anos será completamente indiferente face ao rumo da política imposta pelo 1.º ministro. Mas o PSD é muito mais do que os seus barões e baronetes. É também o partido dos militantes e simpatizantes anónimos que acreditam piamente que o seu partido pode ser a alternativa por que aspiram e, por isso, sentem o doce apelo da (lírica...) subversão que lhes propõe Menezes.
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in Correio da Manhã, 2007.09.28
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