A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

segunda-feira, setembro 24, 2007

A corda na garganta

• Vasco Cardoso
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A presença do capital financeiro na vida das instituições de ES (quer privadas, quer públicas) tem crescido. A maioria das escolas tem dentro das suas portas dependências bancárias, os cartões de estudante há muito que são também cartões de débito, o acto de matrícula para os cerca de 400.000 estudantes do ES está hoje associado à imposição de abertura de uma «conta». Esta semana, em que por sinal se confirmou que o desemprego entre licenciados aumentou no último ano 25% (totalizando mais de 50000 desempregados), o Primeiro-Ministro anunciou a possibilidade dos estudantes do Ensino Superior - ES recorrerem ao crédito bancário para o financiamento dos seus estudos.
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Poderíamos ser levados a acreditar que a novidade desta medida reside apenas no facto do Estado passar a ser uma espécie de avalista dos empréstimos, até porque, há muito que as linhas de crédito, quer de financiamento ao consumo, quer as que se dirigem especificamente aos estudantes, são amplamente promovidas, sobretudo a partir dos sucessivos aumentos de propinas nas licenciaturas, mestrados e doutoramentos (estes dois últimos agravados encapotadamente à boleia do processo de Bolonha). Mas os objectivos são mais profundos e as consequências bem mais tenebrosas.
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A introdução dos empréstimos como componente da política educativa coincide com a aprovação de um novo modelo de gestão para o ES (Julho 2007), que rebenta com qualquer conceito de gestão democrática e abre as portas à presença desses mesmos bancos nos órgãos de gestão de cada uma das escolas com um papel determinante na defesa dos seus próprios interesses.
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Com prejuízo de alguma simplificação da complexa teia que está a ser urdida, a lógica que o Governo quer implementar é esta: o ensino é um negócio; as universidades são empresas; os estudantes são clientes; o conhecimento um produto. Os lucros, esses, ficam para a banca que sem riscos (uma vez que o Estado os assume) amarra milhares de jovens ao pagamento de uma dívida de largos milhares de euros no início da sua (cada vez mais precária) vida activa.
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Desenganem-se os que, tendo hoje a corda na garganta e deitando contas à vida para o pagamento dos estudos dos seus filhos ou dos próprios, vislumbram aqui a ideia de alguma folga enquanto os euros do empréstimo forem pingando ao fim do mês. Porque a acompanhar esta medida, por mais desmentidos que o Governo PS hoje faça, aquilo que está inscrito no código genético da sua política é um novo aumento de propinas.
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in Avante 2007.08.30

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