A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

segunda-feira, setembro 03, 2007

Entrevista CM: Ana Bela Pereira da Silva - A banca em Portugal é uma mentira

* António Ribeiro Ferreira

Ana Bela Pereira da Silva, Presidente da Associação Portuguesa de mulheres empresárias, diz que ainda há discriminação sexual no mundo empresarial, que os governos nestes trinta anos foram muito maus e elogia o Executivo de Sócrates pelas reformas e por ter mexido em áreas tabu. Não tem papas na língua e afirma que a banca é uma mentira, que não corre riscos, recusa créditos às empresas e ganha milhões com créditos pessoais totalmente garantidos.

Correio da Manhã – Ainda é preciso haver em Portugal uma associação de mulheres empresárias?

Ana Bela Pereira da Silva

– Sem dúvida. Basta olharmos para os quadros directivos das associações empresariais em Portugal. As mulheres não estão representadas. E como empresárias temos uma visão diferente dos problemas e devemos por isso transmiti-la de forma autónoma às associações empresariais.

- Mas as mulheres empresárias têm dificuldades em entrar na CIP, AEP ou AIP, por exemplo?

- Como associadas nenhumas.

- E nas direcções?

- Aí é que surgem os problemas. Não consigo explicar o porquê. E julgo que seria extremamente positivo a entrada de mulheres, de muitas mulheres nos quadros directivos das associações. Não como figuras de decoração, mas com um papel activo. Só que não acontece.

- De facto há poucas mulheres em destaque.

- Muito poucas e com um papel secundário.

- Quantas mulheres empresárias existem neste momento em Portugal?

- Não existem estatísticas sérias. Mas todos os números apontam para que 33 por cento do universo empresarial sejam mulheres.

- Um terço?

- Sim. Mas como lhe digo não existem estatísticas rigorosas. Agora, o próprio Eurostat aponta para esses números. Repare, no entanto, que há muitas mulheres que desempenham funções activas em muitas empresas e quem aparece à frente é o marido.

- São as leis, os costumes? Ainda há muita discriminação sexual neste domínio?

- Há de tudo um bocadinho.

- Em muitos negócios a mulher só aparece para assinar contratos dos maridos. É assim?

- É. Funciona como a parceira de confiança. Agora a realidade no nosso País é muito diferente de região para região. E vai mudando devagarinho. Muito devagarinho.

- Muito devagar. Basta olhar para o universo das empresas cotadas na bolsa. É um universo essencialmente masculino.

- Exactamente. É o poder. Todo o poder económico e político está nas mãos dos homens.

- Agora na política existem as quotas.

- Eu falo de poder de facto. As mulheres não o têm em Portugal. Exactamente o contrário do que se passa em muitos países da União Europeia.

- Também estamos muito atrasados nesta matéria?

- Sabe que até nas questões do género nós somos contraditórios. Temos cada vez mais mulheres no mundo empresarial, no mercado de trabalho, em muitas profissões e depois o poder económico e político não reflecte essa realidade.

- Esqueça agora que é mulher. Acha mesmo que a mulher portuguesa tem capacidade, competência e vontade para vencer no mundo empresarial?

- Sem dúvida. Repare que as mulheres portuguesas tiveram de assumir papéis de gestão, tanto a nível familiar como do pequeno comércio, com a emigração dos anos sessenta e setenta. Os homens foram-se embora e tudo ficou a cargo das mulheres. E isso deu-lhes uma capacidade empreendedora excepcional.

- A mulher para entrar no mundo dos negócios precisa de se travestir de homem?

- Eu acho que sim. Para conseguirmos entrar temos muitas vezes de adoptar os mesmos tipos de comportamentos. Caso contrário seria muito mais difícil entrar. E se calhar o fato cinzento e determinados comportamentos são mesmo necessários. Mas também lhe digo que hoje já não é tão premente essa atitude. Porque há mais mulheres. E havendo mais mulheres há cada vez mais espaço para a diferença.

- Qual é a diferença de haver uma mulher ou um homem, com as mesmas competências, à frente de uma empresa?

- Essa pergunta é falaciosa. Porque é assim: se o homem e a mulher são diferentes, à partida teríamos uma liderança diferente. Claro que quando eram poucas nesses lugares sentia-se pouco essa diferença. Mas agora, quando há muitas mais em grandes empresas por esse mundo fora, nota-se mais. Acho que as mulheres têm uma ligação à terra diferente, até pela questão da maternidade, e têm uma visão do tempo e do espaço diferentes.

- Diferente?

- Sim. As mulheres vêem muito mais longe, a longo prazo. E ao terem uma visão diferente do espaço e do tempo trabalham muito bem em equipa.

- Acha?

- Claro. Até pelas funções ancestrais que sempre exerceram no seio da comunidade e da família. Têm claramente uma grande visão estratégica, o que é fundamental nas empresas, e uma grande capacidade de lidar com conflitos. E há também a emoção, que é muito importante em qualquer gestão.

- Apesar disso tudo a visibilidade da sua associação, por exemplo, em comparação com outras associações empresariais é muito menor.

- É muito menor.

- Porquê?

- Pela dimensão da própria associação e pela questão do género, que é muito falada mas muito pouco interiorizada. Há obrigações europeias, há legislação para combater a discriminação mas a realidade é que a discriminação existe. É um facto. Basta sermos honestos para percebermos que existe.

- Falou em legislação. O Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN) prevê algumas medidas.

- É verdade. É muito positivo que o QREN contenha medidas nas áreas empresariais e sociais de apoio à iniciativa das mulheres. Veremos como é que na prática se concretizam. Mas pelo menos houve a coragem de o fazer, uma prática que se faz há muito em outros países.

- As mulheres portuguesas já têm o mesmo nível de formação dos homens?

- Ainda não. O que nós temos é mais mulheres em várias áreas, como no ensino superior. Uma situação idêntica à de outros países. Não é única. O que é importante é vermos onde é que daqui a dez anos essas mulheres estão. Em que lugares estão, nas empresas, nas universidades, na política, em todo o lado. Isso é que é importante.

- Há áreas, nomeadamente as tecnológicas, com poucas mulheres.

- É verdade. Continuam muito afastadas dessas áreas. O que é preocupante. O importante é deixarmos os jovens escolherem as áreas que gostam, sem preconceitos sociais. Um rapaz pode perfeitamente ser educador de infância. Deve ir se quiser. A coisa pior que há é passarmos uma vida a fazer o que não gostamos.

- Como é que vê a situação de Portugal neste momento? A todos os níveis, nomeadamente do ponto de vista económico? Está optimista, pessimista?

- Eu estou optimista, mas com reservas.

- Porquê?

- Eu penso que os portugueses neste momento têm a perfeita noção de que andámos a viver no faz-de-conta e de que temos de pôr os pés no chão. E de assumir aquilo que somos. E perceber que os Governos que tivemos até agora foram muito maus. E que andámos a viver no faz-de-conta.

- E o Governo de Sócrates? Como é?

- Este Governo está a ter a coragem de assumir alguma reformas e tocar em algumas áreas tabus. Está é a ser lento, o que me leva a ter algumas reservas. Vamos ver até que ponto as dificuldades que estamos a atravessar valem a pena. E se há ou não coragem para continuar o Simplex, mexer a sério na Justiça e definir com clareza a estratégia para a economia portuguesa. Sem isto não há aumentos de produtividade, não há desenvolvimento.

- O apertar do cinto está a ser muito duro.

- Nós estamos a bater na classe média de forma violenta. E não há desenvolvimento sem classe média. Esperemos é que este esforço tenha um impacto positivo.

- Ainda não se vê a luz ao fundo do túnel. O endividamento das famílias aumenta e a banca aumenta a oferta dos créditos e os seus lucros.

- A banca em Portugal é uma mentira.

- É mentira?

- Uma banca que seja parceira da economia em Portugal é mentira.

- Está a falar como empresária. É uma crítica forte.

- A banca é uma vergonha. Não é uma parceira do desenvolvimento e da economia. A banca não corre riscos. Tudo o que faz é com garantias reais. Não apoia as empresas e vai apoiar o crédito pessoal que tem taxas mais altas e garantias reais. É tudo ao contrário do que passa em Inglaterra, França, nos Estados Unidos e na Alemanha.

- Aí há banca.

- Claro. Em Portugal não temos banca. Não precisam de fazer nada, podem estar quietinhos e paradinhos e têm lucros extraordinários. Os lucros da banca vêm, em grande parte, do crédito pessoal e do crédito à habitação.

- Como é que as empresas sobrevivem?

- Muitas não conseguem. É uma situação tenebrosa. Muitos gestores de conta estão a ficar com a margem de manobra tão reduzida que um dia destes nem podem autorizar a compra de um selo. E depois a análise de risco é feita com base em formulários. Conhecer o negócio é que não. Não interessa. E conhecer as pessoas? Não interessa.

- Repito a pergunta: como é que as pequenas e médias empresas sobrevivem?

- Repare. As empresas com dimensão não fazem operações em Portugal. Vão lá fora. E como a banca estrangeira que se instalou em Portugal adoptou rapidamente as práticas da banca nacional, espero que algum novo banco que se instale em Portugal perceba que existe um nicho de mercado importante nas pequenas e médias empresas.

- É uma mulher de esquerda, de direita ou do centro?


- O que é que eu me chamo a mim? Chamo-me de esquerda, mas às vezes estou um bocadinho baralhada.

PERFIL

Ana Bela Pereira da Silva nasceu em Lisboa, na freguesia de São Sebastião da Pedreira, no dia 3 de Dezembro de 1953. Nasceu, estudou e ainda trabalha na capital. Fez o Secundário no Liceu Maria Amália Vaz de Carvalho e licenciou-se em Economia na Universidade Católica de Lisboa. Fez duas pós-graduações em Política de Desenvolvimento de Recursos Humanos e em Higiene e Segurança do Trabalho.

Empresária, sócia fundadora da Con.Pro, dirige igualmente uma escola profissional e é presidente da Associação Portuguesa das Mulheres Empresárias, a primeira a ser fundada em Portugal. Tem uma filha adolescente e nos tempos livres gosta muito de mar, cinema, de ler e de estar com os amigos.


in Correio da Manhã 2007.09.02

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Domingo, 2 Setembro
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- Paulo Filipe Se a mentira fosse só essa estávamos muito bem! Mas em termos de mulheres a trabalhar eu estou bem rodeado, só lamento que nem todas subam apenas pela competência!
- JS cont.) Temos três mil Associacôes Culturais Portuguesas espalhadas pelo Mundo que representam 4 a 5 milhôes de portugueses noutros paises, bem conhecedores da carência na indústria e comércio onde se encontram, podendo ajudar a colocar o produto nacional. Mas como os nosso governantes querem tudo centralizado, nada se consegue sem o consento dum padrinho político; mesmo assim, tudo será aprovado
- JS À D. Ana Bela - Enquanto os nossos governantes continuarem com a mentalidade machista, heranca do facisamo, apenas sabem aplicar decisoes imperialistas descriminatórias. A temosia de terem tudo centralizado sob a manta da política; daí, ainda têm medo e falta de coragem a fazer reformas. Preferem ter o País de rastos, sofocando a economia e a populacâo, através do défice Académico, lista de espera
- sousa Temos que esclarecer que mulher trabalhadora não é o mesmo que mulher Empresária! Mulher Empresária tem que ter fibra ainda que seja peixeira ou de limpezas! Mulher Empresária tem que saber comandar! Comandar não é sinónimo de mandar! Comandar é também trabalhar.
- isabella Sei do que falo porque o Mundo Empresarial é para mim uma área apaixonante! O que me levou a bisbilhotar tantas cidades Americanas foi poder analizar e comparar o antes e o depois do tal dia 11! Tudo está mais contido, mais atento e acima de tudo mais resguardado! Hábitos radicalmente transformados! Renascimento em bom tempo de Sol!
- Caeser Tenho 60 anos e constato que esta senhora tem razão, ainda há 10 anos pasmei quando um aluno doutorando, com 27 anos anos, dizia com o ar mais sério deste mundo "o meu pai é que tem razão, há mulheres para usar e mulheres para casar..." Conclusão Decretos não mudam as cabeças.
- isabella Certamente isso é possível porque a Política Bancária desses Estados facilita quem se quer aventurar no Desenvolvimento Empresarial,especialmente se for Mulher! Portugal tem que ajudar as Mulheres! Nós temos valor!
- isabella A Anabela grande conhecedora dos anseios das Empresárias em Portugal tem razão em relação aos poucos incentivos que as Mulheres vão tendo em Portugal, na área dos negócios! Na passada semana dei uma volta completa aos Estados Unidos de costa a costa. Viagei em 8 aviões e vi como serenamente as Empresárias dessas zonas, mesmo as não citadinas, conseguem uma autonomia e desenvolvimento mercantil!
- maria As mulheres são mais trabalhadoras, mas em relação às colegas são uns estupores. Digo isto por tudo o que tenho observado nos lugares em que trabalhei.

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