Falar sobre o caso Maddie é um exercício difícil no meio de uma batalha mediática e judicial que há muito ultrapassou as fronteiras deste sítio cada vez mais mal frequentado e é hoje um assunto que prende a atenção de muitos milhões de cidadãos em todo o Mundo. Historiando um pouco os factos, isto é, fazendo um pouco a revisão da matéria noticiada desde o dia do desaparecimento da miúda inglesa, é natural que surjam muitas dúvidas, perplexidades, confusões e sentimentos contraditórios. A primeira tese, logo a seguir ao fatídico 3 de Maio, foi a de desaparecimento.
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.* Eduardo Dâmaso, Director-Adjunto
O desaparecimento de Madeleine McCann tornou-se um assunto inesgotável nos ângulos de análise, nos mistérios, nas perguntas sem resposta.
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Quanto à substância do caso não adianta dar palpites mas sobre a justiça portuguesa e o jornalismo há singelas coisas que não podemos deixar de questionar. Os McCann são arguidos, não são culpados. Presume-se a sua inocência e têm total liberdade de movimentos, mas isso resulta da avaliação dos factos que estão na investigação ou tão simplesmente de um atípico acordo do advogado destes com o procurador-geral da República? Um e outro reuniram mesmo antes dos interrogatórios? Se reuniram qual foi o conteúdo da conversa? .
Aliás, face a tão descabelados ataques feitos à polícia e à justiça portuguesas por um jornalismo que se porta como mera extensão dos desígnios, mais ou menos ocultos, do Estado inglês, como podem o procurador-geral da República e o próprio Governo ficar calados? Como se pode desprezar tão olimpicamente o trabalho de pessoas que acreditam estar apenas e só a cumprir a sua obrigação? .
.Só com a demonstração que estas dúvidas são excessivas se poderá acreditar que aquilo a que assistimos ontem em directo pela televisão, ao melhor estilo dos funerais da princesa Diana, não foi uma fuga VIP, pela porta grande do aeroporto de Faro e da justiça portuguesa.
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in Correio da Manhã 2007.09.10
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Impressões - O ruído e a verdade
José Luís Ramos Pinheiro, Jornalista
O caso de Maddie não torna Portugal num país mais inseguro nem apaga os milhares de crianças desaparecidas em todo o Mundo.
O desaparecimento puro e simples de uma pessoa é sempre angustiante. Pior ainda se estamos a falar de uma criança. Por outro lado, a ausência de explicações ou motivos agrava a situação. Neste género de eventos, sem diagnóstico seguro, sobram as teses amadoras, do género ‘treinadores de bancada’, os tais que têm sempre conselhos a dar sobre aquilo que nunca fizeram.Infelizmente, estes casos acontecem: em Portugal, no Reino Unido e em qualquer parte do Mundo. E vão continuar a acontecer. O caso da pequena Maddie não torna Portugal num país mais inseguro nem apaga os casos de milhares de crianças desaparecidas em todos os países, incluindo na Grã-Bretanha.Mas o trágico desaparecimento de Maddie teve uma cobertura mediática inédita. Com tantas pessoas desaparecidas em tantos países do Mundo, o que motivou uma campanha mediática tão intensa? Dir-se-á que em caso de rapto uma boa campanha mediática representa um poderoso contributo para a resolução do crime. Mas também isso está por provar. Uma intensa cobertura mediática até pode gerar maiores cuidados aos criminosos, dificultando ao máximo a descoberta da verdade.
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No caso da menina inglesa houve, como quase sempre, tentativas de instrumentalização dos media, vindas de diferentes lados. E muitos meios de comunicação – nacionais e estrangeiros – deixaram-se instrumentalizar. Por razões de audiência nuns casos, por ignorância noutros, mas também por uma espécie de “jornalismo patriótico”, como se estivesse em causa um ajuste de contas futebolístico, Portugal-Inglaterra. Sucede que não estamos na presença de uma competição entre polícias e jornalistas ingleses de um lado e os seus homólogos portugueses do outro. Nem se trata de descobrir culpados por via democrática, como se a Justiça dependesse dos palpites das multidões que preferem fazer por suas mãos o que aos tribunais compete ajuizar.
.O essencial é confiar que as polícias não investigam mais nem melhor por terem permanentemente os jornalistas à perna. Os meios de Comunicação Social e as autoridades judiciais até podem concordar num ponto: a presença de jornalistas dificulta a realização das diligências policiais, tal como a presença de polícias em nada ajudaria certas investigações jornalísticas.
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No seu afã de informar primeiro o que a polícia ainda não descobrira, alguns media intuíram culpados em cada inquirição, surpreenderam evidências onde não havia provas, confundiram jornalismo com investigação judicial.É sempre bom esclarecer que jornalismo de qualidade não se confunde com excesso de ruído. Aliás, o excesso de ruído não é amigo da verdade: pelo contrário, distrai, ilude e engana.
in Correio da Manhã 2007.09.11
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Bilhete Postal - Pensemos mais e melhor
* Carlos de Abreu Amorim
Os media ingleses estão a rebaixar a Justiça portuguesa. Nós parecemos repletos de certezas absolutas acerca da culpabilidade dos McCann. Por todo o lado, ouvem-se inúmeros encómios às nossas polícias e ao sistema judicial em geral.
Talvez seja mais seguro empregar alguma prudência quando defendemos aquilo que tem sido o nosso estilo de investigação criminal – pensemos nas recentes declarações da juíza Amália Morgado. E na actuação dos agentes da Justiça no caso Moderna, no processo Casa Pia e no caso Esmeralda. E, ainda, no caso Joana – com aquela investigação e as provas apresentadas em tribunal poucos países civilizados teriam condenado alguém. E, sobretudo, nas fugas ao segredo de justiça, quotidianas, ‘oficiais’ e muito bem escolhidas.
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Os gritos ‘patrioteiros’ de ambos os lados não são razoáveis. A apologia dos ‘lóbis’ não serve ninguém excepto os próprios.
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in Correio da Manhã 2007.09.11
. NOTA -
* Victor Nogueira
Em todo o mundo desaparecem ou são maltratadas crianças. isto para não falar no trabalho infantil e na pedofilia. Umas crianças são maltratadas ao bofetão e ao grito, outras de modo sofisticado. Em todo esta caso realço dois aspectos.
Aparentemente os McCann viviam bem, eram médicos, conviviam com gente da alta e tinham boas relações nos meios de comunicação social ingleses. Mas trabalhando ambos, era sobre a mãe que recaia todo o trabalho de cuidar das crianças, enquanto o pai, a crer na imprensa, se distraia, um pai ausente mas compreensivo, porto de abrigo da Maddie. Para sedá-las às 17:00 para poderem divertir-se, leva-me a perguntar porque não deixaram as crianças no Reino Unido, com alguém de família. Afinal só tencionavam demorar-se em Portugal uma semana. Mas inesperadamente regressados à Terra Natal, quando confrontados com a possível responsabiliade da mãe na morte da criança, tiveram a GNR a escoltá-los até ao aeroporto de Faro e teriam sido recebido como heróis pelos seus compatriotas. Entretanto foram contratar o advogado de Pinochet, que não deve ter um escritório num vão de escada nem andar aos caídos pelo tribunal a ver de arranja clientes de última hora que mal têm tempo de estudar os processos. Veja-se Caso da Casa Pia, também com circo mediático no início, que se arasta e arrasta com os arguidos «tratados» por bons advogados, se não todos, pelo menos alguns. Entretanto o pé descalço arguido por pedofilia, vê o seu processo e condenação rapidamente concluídos.
Não podiam ser incrimininados, sem o aparecimento do corpo.
Ora aqui a porca torce o rabo: então no caso Joana, duma família pobre, analfabeta, sem amigos importantes, a não descoberta do corpo não impediu a condenação da mãe e do tio e, que me lembre, não foi constituído qualquer fundo que lhes permitisse procurar a criança ou contratar um bom advogado. A história da Joana está muito mal contada e no seu desaparecimento ponho como hipótese estar envolvido alguém importante ou graúdo. Aliás esta é uma história paradigmática deste povo de «brandos costumes». Primeiro, a professora e a vizinhança enalteciam a «responsabilidade» da criança e o bom tratamento que a mãe lhe dava. Depois da acusação da mãe, logo a vizinhança mudou o disco e a mulher passou de bestial a besta, ainda estando por esclarecer se houve ou não agressão física para obter a «confissão».
De reaçar também o ruído e a especulação da imprensa tablóide portuguesa (não sei o que se passou na TV). «inventando», «negando» hoje o que afirmara na véspera, tudo na ânsia de vender papel. Como vem sendo hábito e é característica para a boa «vivência» dos seus accionistas.
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