Terra em Risco
Lixeiras ameaçam Planeta
* André Pereira / Pedro H. Gonçalves / Miguel Azevedo
A Terra corre o risco de ficar atolada em lixo caso nada seja feito para diminuir e tratar os mais de mil milhões de toneladas produzidos por ano pela Humanidade, de acordo com as estimativas das Nações Unidas e de agências especializadas em questões ambientais.
Os países mais desenvolvidos e industrializados, como seria de esperar, são os principais responsáveis pelo lixo existente. Só os EUA respondem pela produção de um quarto do lixo mundial, ou seja, cerca de mais de 235 milhões de toneladas.
No top cinco dos países mais poluidores do Mundo, além do já referido líder isolado, aparecem Rússia (207,4 milhões), Japão (52,36), Alemanha (48,84) e Reino Unido (34,85). Portugal, com uma população de cerca de dez milhões de habitantes, ficou-se pelos cinco milhões de toneladas, das quais apenas 16 por cento são recicladas. Os dados são referentes a 2005.
A maior parte deste lixo denomina-se de resíduos sólidos urbanos, compostos por restos de comida, cartão, papel, vidro, plásticos e outros, cuja principal fonte são as habitações. Mas se parte deste lixo pode ser reciclado, a verdade é que muitas outras toneladas ficam por tratar. As más práticas são frequentes e ainda é possível ver locais onde os resíduos de construção e demolição (entulho) ou equipamento eléctrico e electrónico (os vulgares electrodomésticos) se amontoam a céu aberto.
Das cerca de cinco toneladas de resíduos sólidos urbanos produzidas em Portugal, cerca de 60 por cento é lixo biodegradável. Se à primeira vista esta característica podia ser considerada positiva, a verdade é que o seu depósito em aterros implica alguns problemas, como a produção de fortes odores, gases com efeito de estufa mais poderosos do que o dióxido de carbono ou águas residuais de difícil tratamento.
Segundo um relatório sobre a gestão dos resíduos sólidos urbanos e a emissão de gases de estufa, no âmbito da Plano Estratégico dos Resíduos Sólidos Urbanos (PERSU II), a reciclagem é o método de tratamento mais eficaz no que diz respeito à redução na emissão de dióxido de carbono para a atmosfera. Em 2005, foi responsável pela poupança de 376 mil toneladas. A previsão aponta para 488 mil toneladas em 2020.Quanto ao destino final dos cinco milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos produzidos no País, cerca de 3,2 milhões são colocados em aterros. A recolha selectiva e a valorização orgânica representam, respectivamente, nove e sete por cento.
No entanto, nem tudo é mau. Apesar de ainda se estar longe do cenário ideal, os últimos indicadores parecem revelar uma mudança de atitude nas populações dos países mais desenvolvidos. Se até há bem pouco tempo a quantidade de lixo produzido era um parâmetro de desenvolvimento, hoje em dia essa ideia está completamente afastada.
"PROGRESSO NÃO É SINÓNIMO DE POLUIÇÃO"
Pedro Carteiro, do Centro de Informação de resíduos da Quercus
CM – Qual é o impacto dos resíduos no ambiente?
Pedro Carteiro – Além dos fortes odores que os aterros sanitários emanam, também libertam gás metano, que contribui 21 vezes mais para o efeito de estufa se compararmos com o dióxido de carbono. As águas residuais que resultam desses locais possuem uma carga poluente muito elevada e para a qual não existe equipamento tecnologicamente sofisticado capaz de tratar.
– Que medidas podem ser adoptadas para minimizar esse impacto?
– Temos de implementar o tratamento mecânico e biológico, vulgarmente designado por TMB, que separa os resíduos em três facções e consegue tratar de forma eficaz o lixo biodegradável, que é o grande responsável pelas emissões de gás metano. Em Portugal existem quatro grandes unidades de tratamento, o que é insuficiente para o País. Devíamos usar as verbas comunitárias para investir a sério no TMB.
– Como aliar o progresso com a necessidade de reduzir a quantidade de lixo que produzimos?
Progresso não é um sinónimo de poluição. É possível conciliarmos essa necessidade através da aplicação de medidas que já são usadas, como a reciclagem. Também as empresas já começam a pensar num design ecológico.
"TODOS NÓS SOMOS EGOÍSTAS E COMODISTAS
"Nuno Guerreiro, vocalista da Ala dos Namorados, banda que participa amanhã no evento Live Earth no Pav. Atlântico.
Correio da Manhã – Sempre foi uma pessoa atenta aos problemas ambientais?
Nuno Guerreiro – Confesso que às vezes tento não pensar tanto nos problemas do ambiente, porque são assustadores. O aquecimento global é algo verdadeiramente preocupante. As diferenças de temperatura são cada vez maiores e a culpa é da poluição que, afinal de contas, é da responsabilidade de todos nós. Não sei como é que as coisas estarão daqui a vinte anos! Até podemos dizer que a culpa é dos políticos, mas a verdade é que somos nós que lhes damos o poder.
– De que forma procura contribuir para o bem-estar do ambiente?
– Tenho sempre a preocupação de separar o lixo e nunca deixo luzes ligadas. Mas apesar de tudo também sou um pecador. Todos fazemos asneiras. Muitas vezes nem nos lembramos, mas só pelo facto de termos carro já estamos a contribuir para a poluição e para o mal-estar do ambiente. A verdade é que todos nós somos egoístas e comodistas.
– Pode a música, efectivamente, sensibilizar as pessoas para a preservação do ambiente?
– Acho que a música pode ajudar a despertar as pessoas para causas. Por isso, qualquer figura pública pode e deve ajudar, sobretudo porque as coisas hoje também andam muito camufladas. Acho que quem não andar bem informado nem sabe bem o que se está a passar no nosso Planeta. Acredito no evento Live Earth da mesma forma que acreditava noutras iniciativas do género. Vi há pouco tempo o Live Eight e era um evento muito bem organizado e que tocou as pessoas.
– Durante a actuação de amanhã, no Pavilhão Atlântico, a Ala dos Namorados vai passar algum tipo de mensagem? Têm algum discurso preparado?
– Estou obviamente a pensar dizer qualquer coisa. Até estou a pensar investigar um pouco mais sobre o assunto para poder falar com conhecimento de causa. É possível que prepare um pequeno texto para dizer em palco. Quanto ao alinhamento, é quase certo que iremos interpretar ‘Canção de Edite’ e ‘Loucos de Lisboa’. Mas o tempo não dá para muito. Não deveremos exceder cinco canções.
SUPERPOTÊNCIA NO MAU SENTIDO
Os Estados Unidos são os líderes destacados no que à produção de lixo diz respeito. Respondem por um quarto do total: 235 milhões de toneladas.
ALTERAÇÕES DE MENTALIDADES
Antigamente a quantidade de lixo produzido media o desenvolvimento de um país. Uma ideia totalmente ultrapassada hoje em dia.
TRÊS MEDIDAS PARA SALVAR O PLANETA
Padre Vítor Melícias - Aos 68 anos é o superior provinvial da Ordem dos Franciscanos em Portugal.
1. - Tratar o Planeta Terra como se fosse a Madre Terra, ou seja, praticando uma ecologia não do interesse e do medo, mas de fraternidade universal, com o homem a perceber que é apenas um dos habitantes da Terra.
2. - Todos os dirigentes, independentemente de crenças ou culturas, têm de notar que o Planeta é a casa de todos e para todos e, portanto, são necessários compromissos internacionais que sejam efectivamente respeitados.
3. - Que se comece pelas crianças e jovens a ensinar de forma prática que o interesse de todos é que ninguém tenha interesses seus contra os dos outros. O amanhã dos homens só será seguro se for construído por todos.
in Correio da Manhã 2007.07.06
Sem comentários:
Enviar um comentário