UE: Primeira megamanifestação da presidência portuguesa
20 mil contra flexibilidade
* João Carlos Malta
Uma megamanifestação da CGTP, com cerca de 20 mil pessoas segundo as forças policiais, marcou ontem a reunião informal de ministros do Emprego e Assuntos Sociais da União Europeia que decorreu no Pavilhão Multiusos de Guimarães. Foi uma autêntica romaria que percorreu as ruas da cidade minhota, onde estiveram presentes trabalhadores de todas as regiões do País, bem como uma delegação de sindicalistas da Galiza. O motivo comum era o combate à à flexissegurança, que defendem que irá aumentar a precariedade das relações laborais.
Os três eventos da presidência portuguesa da UE foram marcados por outras tantas manifestações, sendo que, no entanto, a de ontem teve maiores proporções. Os manifestantes, que nas contas da CGTP eram 25 mil, desfilaram pelas ruas de Guimarães, durante duas horas, até ao local em que decorria a reunião, mas tiveram de enfrentar o primeiro dia de verdadeiro calor deste Verão. Entre os muitos jovens que marcaram presença no protesto esteve Anabela Teixeira, 23 anos, professora do primeiro ciclo, que se licenciou há um ano e está desempregada há seis meses. A docente afirmou ao CM que está contra a flexissegurança porque “significa baixa de salários e precariedade no trabalho”.
Com a mesma visão sobre a flexissegurança, Francisco Cordeiro, de 42 anos, operário da Câmara de Sesimbra, segurava com mais cinco companheiros uma faixa onde se lia que “Terrorismo Social? Não!”.
“Não são palavras exageradas. Estas políticas laborais são terroristas e vão reflectir-se em termos de natalidade e no que serão as expectativas dos nossos jovens. Com estas medidas estão a acabar com a classe média, sendo que os desequilíbrios sociais estão a aumentar“, disse. Num ambiente mais fresco e confortável, o ministro do Trabalho afirmou que as manifestações “são um acto normal na vida das sociedades democráticas”. “Cada um escolhe a sua forma de estar nas discussões. Mas espero que o diálogo seja amplo e aberto.”
"VIDA ALÉM DA FLEXISEGURANÇA"
Impaciente com insistentes perguntas sobre a manifestação da CGTP e a flexissegurança, o ministro do Trabalho e da Segurança Social, Vieira da Silva, tentou pôr um ponto final na discussão com a frase: “Na política social da União Europeia há vida para além da flexissegurança.
”Segundo Vieira da Silva, a discussão está muito longe de concluída. “O debate foi muito positivo mas está em fase muito inicial”. “A flexissegurança deve ser para os trabalhadores mas também para os empregadores. Os conceitos de flexibilidade e segurança não são opostos mas sinérgicos.
Estamos no princípio, mas espero que em Dezembro tenhamos resultados”, considerou o comissário europeu para o Emprego, Vladimir Spidla.Mostrando apreensão em relação ao aumento das assimetrias sociais na Europa, o representante da Plataforma Social, Fintan Farrel, sustentou que “as questões sociais devem ser centrais, e não podemos somente falar de políticas económicas”.
Além da flexissegurança, nos próximos seis meses a presidência portuguesa quererá, em termos sociais, dar respostas às questões do envelhecimento activo, a reforma do modelo social e uma resposta activa à exclusão social.
ACORDO NOS BIOCOMBUSTÍVEIS
José Sócrates, Durão Barroso e Lula da Silva mostraram-se ontem de acordo para promover a utilização dos biocombustíveis, com os europeus a pensar mais na luta contra as alterações climáticas e os brasileiros no combate à pobreza.
O primeiro-ministro de Portugal, na qualidade de presidente do Conselho Europeu, o presidente do Brasil e o presidente da Comissão Europeia participaram numa conferência, em Bruxelas, para debater as vantagens e os desafios dos biocombustíveis. Sócrates destacou a aposta de Portugal nas energias renováveis, sublinhando que os biocombustíveis “são a melhor via a médio prazo para que o sector dos transportes seja mais amigo do Ambiente”. O líder do Executivo apontou as metas do Governo nas renováveis, que passam pelo aumento de 39 para 45% na quota de electricidade consumida de origem renovável até 2010.
SAIBA MAIS
801 000 A população empregada com contrato a termo atingia as 634 100 pessoas no final de 2006, enquanto os restantes vínculos precários se situavam nas 167 100, segundo o INE.
7,9% É a percentagem de desempregados em Portugal, de acordo com o Eurostat, o gabinete de estatística da Comissão Europeia. A média na UE é de sete por cento.
ESTADOS DIFERENTES
A Comissão Europeia diz que tem de haver princípios comuns, mas defende que o conceito de flexibilidade e segurança seja adaptado à realidade de cada Estado.
CUSTOS
A avaliação dos custos da aplicação da flexissegurança dependerá das medidas adoptadas em cada Estado, mas a Comissão Europeia garante que, a prazo, os benefícios serão maiores que a despesa.
Foto - Estela Silva
in Correio da Manhã 2007.07.06
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