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» José Luís Ramos Pinheiro,
Jornalista
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Ter filhos foi uma prioridade que perdeu terreno para o chamado bem-estar, traduzido no carro, na casa, nos telemóveis.
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Milhares de professores não conseguiram colocação no concurso nacional para preenchimento de necessidades residuais, no próximo ano lectivo. Dos mais de quarenta e sete mil que concorreram, só pouco mais de três mil foram colocados a tempo inteiro. Entre os participantes no concurso, cerca de vinte mil professores estiveram contratados no ano lectivo anterior. O sistema de ensino público, de acordo com estimativas sindicais, perderá entre dezasseis mil a vinte e três mil professores, num prazo de três anos.
Milhares de professores não conseguiram colocação no concurso nacional para preenchimento de necessidades residuais, no próximo ano lectivo. Dos mais de quarenta e sete mil que concorreram, só pouco mais de três mil foram colocados a tempo inteiro. Entre os participantes no concurso, cerca de vinte mil professores estiveram contratados no ano lectivo anterior. O sistema de ensino público, de acordo com estimativas sindicais, perderá entre dezasseis mil a vinte e três mil professores, num prazo de três anos.
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Há quem fale, como sempre, em irregularidades no concurso. Se há indícios, investiguem-se. Mas imagino que as alegadas irregularidades não transformariam três mil professores contratados a tempo inteiro em trinta mil.
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O que se passa é que o País continua a precisar de excelentes professores, mas não precisa de tantos professores. A escolaridade até tem aumentado, mas é conhecida a forte quebra da natalidade. Não é razoável esperar que enquanto os alunos diminuem a olhos vistos, o número de professores se mantenha ou aumente.
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A pouco e pouco, vamos saboreando o lado mais amargo da sociedade que temos criado.
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Portugal continua a ter um elevado número de pobres, cerca de 20% da população. Mas há um significativo número de portugueses que passou a ter acesso, cada vez a mais bens e serviços: a concessão de crédito explodiu e as famílias multiplicaram o endividamento.
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Ter filhos foi uma prioridade que perdeu terreno para o chamado bem-estar, traduzido no carro, na casa, nas viagens, nos telemóveis e noutros objectivos alguns deles, puros caprichos transformados em necessidades básicas ou mesmo promovidos a projectos de vida.
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A cultura e a indústria dominantes ensinam-nos, a todo o custo, a prevenir o número de filhos e a reduzir os nascimentos. Pela negativa. Simultaneamente, os padrões de vida transmitidos às novas gerações apontam no mesmo sentido: optimizar todos os meios que permitem uma sexualidade irresponsável. É raro ver a abordagem contrária: como promover responsavelmente o aumento da natalidade? Enlevados com o presente, custa-nos acordar para a realidade. De repente, o óbvio torna-se evidente: o individualismo galopante não gera sociedades mais solidárias. As opções assumidas como puramente individuais, acabam por produzir consequências sociais.
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Enquanto se mantiver neste estado, Portugal não terá mais escolas, mais professores, mais hospitais ou melhores reformas.As elites nacionais têm responsabilidades na situação a que se chegou, mas não há manifestações, sindicatos, partidos, ministérios, governos ou presidentes que possam mudar Portugal, sem os portugueses mudarem de vida.
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in Correio da Manhã, 2007.09.04
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04-09-2007 - 00:00:00 10 dias sem ter onde deixar os filhos
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» Comentários no CM on line
Terça-feira, 4 Setembro
» Comentários no CM on line
Terça-feira, 4 Setembro
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- Saraiva Mota Quem emigra é jovem. Por isso nas grandes comunidades de Portugueses pelo mundo. O que lá não faltam são jovens filhos de emigrantes portugueses. Mas o que faltam são professores de Português que até ao dia 04.09.07 ainda não se sabe quando o ensino de português vai começar. Deve ser dificil escolher 2 professores entre 600 candidatos? Institude Luís de Camões para que serves?
- Leandro Coutinho Fantástico artigo.. Muito bem.. De forma sintética consegue equacionar de forma primorosa um universo enorme de coisas (doenças) que marcam a sociedade actual e obnubilam o futuro.. Parabéns. Nunca deixe de escrever.
- teresa Pobre Nação esquecida. Enquanto houver governantes que só olham para a sua conta bancária, ignoram o seu povo, que não percebem que sem vida não haverá uma "poderosa" descendência, podem dizer adeus a Portugal.
- Leandro Coutinho Fantástico artigo.. Muito bem.. De forma sintética consegue equacionar de forma primorosa um universo enorme de coisas (doenças) que marcam a sociedade actual e obnubilam o futuro.. Parabéns. Nunca deixe de escrever.
- teresa Pobre Nação esquecida. Enquanto houver governantes que só olham para a sua conta bancária, ignoram o seu povo, que não percebem que sem vida não haverá uma "poderosa" descendência, podem dizer adeus a Portugal.
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Para saber mais sobre a evolução da natalidade ver:
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